Na Portela, em Leomil, metemos por um caminho íngreme de cuja altitude se faz vista boa para a ribeira do Nozedo e volvidos alguns minutos estamos na Semitela. Terra de aragens constantes, situa-se na meia encosta numa das saias da Serra. Juntamente com Beira Valente e Paraduça forma a tríade de anexas da vila de Leomil. Serranias churras, pinheirais, lá ao cimo nas cristas pedregosas. Leiras verdejantes em jeitos de frescura, corriscos de água pondo termo à calma absorta, cá e lá em baixo. Num e noutro sítios crescem soutos com bravura e ao lado espreitam muros de silvas, musgos e outros líquenes. Nós estamos ali “agora”. Eles estão ali desde “ontem”. Nós contemplamos o que vemos. Eles escondem silêncios remotos. O vale, no estendal do granjeio, acolhe os assobios dos pássaros numa orquestra onde cores e sons se fundem. Reter certas luzes do sol a pôr-se, ver certos muros de torres em ruína faz pressentir pavores ancestrais, atrás de calhaus à espreita dos medos surrateiros, talvez semíticos. A paz que ali se pressente é como a dos pousios, apenas sacolejada pelas águas a borbulhar nos caminhos, direitas aos mimos dos granjeios. Hortas, pastagens, searas, colgaduras de estevas e rosmaninhos fazem parte um habitat variado por onde esbraveja uma fauna díspar. Olhar para estas aguarelas com olhos de ver, é viajar por várias dimensões e rememorar as idades esquecidas, os legados que ainda não findaram.
O povo da Semitela (Semit = semitas + tela = ideia de povoado) é a prova cabal da presença semítica ancestral (judaica e árabe) na nossa região. O termo semita tem como principal designação o conjunto linguístico composto por uma família de vários povos, entre os quais se destacam os árabes e hebreus, que compartilham as mesmas origens culturais. A origem da palavra semita vem de uma expressão no Génesis da Bíblia que se refere à linhagem de descendentes de Sem (Semitas), filho de Noé. Modernamente, as línguas semíticas estão incluídas na família camito-semítica.
Historicamente, esses povos tiveram grande influência cultural, pois as três grandes religiões monoteístas, judaísmo, cristianismo e islamismo- possuem raízes semitas. Não se poderá dizer que os semitas eram um povo étnico homogéneo, devido às suas migrações. Assim, são muitas as línguas que compõem a família semítica, com destaque para as seguintes: acadiano, ugarítico, fenício, hebraico, aramaico, árabe, etíope, egípcio, somali, gala, haúça. Por conseguinte, entre os antigos povos de fala semítica estão os arameus, assírios, babilônios, sírios, hebreus e fenícios.
Os semitas são originários da Etiópia ou Arábia e actualmente ocupam parte do Médio Oriente desde o Mar Vermelho até ao planalto iraniano. A primeira religião monoteísta do mundo, a religião judaica, surgiu entre os hebreus antigos nas colinas próximas ao Mediterrâneo durante os conflitos contra os cananeus e moabitas. Sofreram depois diversas invasões e a religião tornou-se o principal elo entre si. No século I da era cristã, os judeus acabaram por se dispersar pelo império romano ao qual passaram a pertencer, dando origem a uma diáspora. Nessa diáspora vieram para a Península Ibérica e uma comunidade instalou-se no couto de Leomil, um espaço integrador, multi-étnico e multi-religioso.
O local onde se instalou terá sido no sopé da serra, nas imediações da sede jurídico-administrativa do Couto, dando-se a essa comunidade o nome de Semitela. Etnicamente os árabes também são semitas, por isso Semitela, que designa urbe de semitas, tanto poderá referir-se a um pequeno povoado de judeus como de árabes ou de ambos em conjunto. Por esse modo, é crível que a povoação da Semitela remonte ao período da conquista ou reconquista da Península Ibérica. Semitela é um nome pelo qual os próprios semitas não se intitulariam. É algo externo a eles próprios. É uma designação de cristãos sobre os outros povos étnico-religiosos. Daí que seja mais plausível que a Semitela tenha sido constituída na época da reconquista cristã.
De facto esta terra ter-se-á designado assim pela comunidade semítica que ali se fixou. A vila de Leomil tinha em tempos remotos, como todos os povoados de relevo, portas de entrada e saída. O que não se sabe é se a vila era ou não amuralhada. Essa realidade ficou para a posteridade na toponímia. A “Portela”, hoje uma zona residencial, mais não era do que uma pequena porta que assinalava não os limites da vila, mas o início do povoado. O local chamado “Chão da Porta” que corresponde hoje a um bairro novo da vila de Leomil, terá sido, também, um local onde se localizava uma porta de entrada para a sede do Couto. Refiro-me obviamente ao período medievo, onde a circulação e entrada na terra dos senhores feudais, sobretudo no domínio senhorial, reserva ou terra domenicata, pagava imposto. Daí a importância de portas por onde se controlava a entrada de determinados indivíduos em trânsito que deveriam pagar portagem. A Semitela fazia portanto parte do Couto de Leomil, mas fora da urbe, o que se percebe. Os judeus aí residentes não viveriam dentro da sede do Couto senão numa comunidade à parte, algo distante. Mais tarde, vieram a deslocar-se para o arrabalde da vila e constituíram as judiarias de Leomil, no cancelo e no guardal.
Poder-se-á ainda equacionar outra hipótese. O latim “Semitella”, como reflecte Almeida Fernandes no célebre trabalho “Toponímia Portuguesa”, poderá ser diminutivo de “semita” com significado de “senda” ou “atalho”. Seguindo ainda a evolução linguística da toponímia poder-se-á conjecturar que “heremitella” de “heremita” relacionada com um templo terá dado origem a “eremitella”, depois “esmitella” e finalmente “Semitella”.
A Semitela foi sempre, na verdade, uma pequena comunidade e nunca deixou de pertencer a Leomil: primeiro ao Couto, depois ao concelho e hoje à freguesia. Poucos são os documentos que dela nos falam. Mas os poucos que a ela se referem apontam precisamente para a sua pequenez. É o caso, a título de exemplo, da monografia oitocentista do Padre Carvalho da Costa, onde consta que essa paróquia tinha ermida de Santo António e aí viviam 12 vizinhos. Apesar de pequena é terra de grande importância para se perceber a diversidade religiosa e matriz cultural desta sub-região.
O povo da Semitela (Semit = semitas + tela = ideia de povoado) é a prova cabal da presença semítica ancestral (judaica e árabe) na nossa região. O termo semita tem como principal designação o conjunto linguístico composto por uma família de vários povos, entre os quais se destacam os árabes e hebreus, que compartilham as mesmas origens culturais. A origem da palavra semita vem de uma expressão no Génesis da Bíblia que se refere à linhagem de descendentes de Sem (Semitas), filho de Noé. Modernamente, as línguas semíticas estão incluídas na família camito-semítica.
Historicamente, esses povos tiveram grande influência cultural, pois as três grandes religiões monoteístas, judaísmo, cristianismo e islamismo- possuem raízes semitas. Não se poderá dizer que os semitas eram um povo étnico homogéneo, devido às suas migrações. Assim, são muitas as línguas que compõem a família semítica, com destaque para as seguintes: acadiano, ugarítico, fenício, hebraico, aramaico, árabe, etíope, egípcio, somali, gala, haúça. Por conseguinte, entre os antigos povos de fala semítica estão os arameus, assírios, babilônios, sírios, hebreus e fenícios.
Os semitas são originários da Etiópia ou Arábia e actualmente ocupam parte do Médio Oriente desde o Mar Vermelho até ao planalto iraniano. A primeira religião monoteísta do mundo, a religião judaica, surgiu entre os hebreus antigos nas colinas próximas ao Mediterrâneo durante os conflitos contra os cananeus e moabitas. Sofreram depois diversas invasões e a religião tornou-se o principal elo entre si. No século I da era cristã, os judeus acabaram por se dispersar pelo império romano ao qual passaram a pertencer, dando origem a uma diáspora. Nessa diáspora vieram para a Península Ibérica e uma comunidade instalou-se no couto de Leomil, um espaço integrador, multi-étnico e multi-religioso.
O local onde se instalou terá sido no sopé da serra, nas imediações da sede jurídico-administrativa do Couto, dando-se a essa comunidade o nome de Semitela. Etnicamente os árabes também são semitas, por isso Semitela, que designa urbe de semitas, tanto poderá referir-se a um pequeno povoado de judeus como de árabes ou de ambos em conjunto. Por esse modo, é crível que a povoação da Semitela remonte ao período da conquista ou reconquista da Península Ibérica. Semitela é um nome pelo qual os próprios semitas não se intitulariam. É algo externo a eles próprios. É uma designação de cristãos sobre os outros povos étnico-religiosos. Daí que seja mais plausível que a Semitela tenha sido constituída na época da reconquista cristã.
De facto esta terra ter-se-á designado assim pela comunidade semítica que ali se fixou. A vila de Leomil tinha em tempos remotos, como todos os povoados de relevo, portas de entrada e saída. O que não se sabe é se a vila era ou não amuralhada. Essa realidade ficou para a posteridade na toponímia. A “Portela”, hoje uma zona residencial, mais não era do que uma pequena porta que assinalava não os limites da vila, mas o início do povoado. O local chamado “Chão da Porta” que corresponde hoje a um bairro novo da vila de Leomil, terá sido, também, um local onde se localizava uma porta de entrada para a sede do Couto. Refiro-me obviamente ao período medievo, onde a circulação e entrada na terra dos senhores feudais, sobretudo no domínio senhorial, reserva ou terra domenicata, pagava imposto. Daí a importância de portas por onde se controlava a entrada de determinados indivíduos em trânsito que deveriam pagar portagem. A Semitela fazia portanto parte do Couto de Leomil, mas fora da urbe, o que se percebe. Os judeus aí residentes não viveriam dentro da sede do Couto senão numa comunidade à parte, algo distante. Mais tarde, vieram a deslocar-se para o arrabalde da vila e constituíram as judiarias de Leomil, no cancelo e no guardal.
Poder-se-á ainda equacionar outra hipótese. O latim “Semitella”, como reflecte Almeida Fernandes no célebre trabalho “Toponímia Portuguesa”, poderá ser diminutivo de “semita” com significado de “senda” ou “atalho”. Seguindo ainda a evolução linguística da toponímia poder-se-á conjecturar que “heremitella” de “heremita” relacionada com um templo terá dado origem a “eremitella”, depois “esmitella” e finalmente “Semitella”.
A Semitela foi sempre, na verdade, uma pequena comunidade e nunca deixou de pertencer a Leomil: primeiro ao Couto, depois ao concelho e hoje à freguesia. Poucos são os documentos que dela nos falam. Mas os poucos que a ela se referem apontam precisamente para a sua pequenez. É o caso, a título de exemplo, da monografia oitocentista do Padre Carvalho da Costa, onde consta que essa paróquia tinha ermida de Santo António e aí viviam 12 vizinhos. Apesar de pequena é terra de grande importância para se perceber a diversidade religiosa e matriz cultural desta sub-região.
Autor: Jaime Ricardo Gouveia
A História da nossa terra, elaborada e interpretada por Historiadores, não está sujeita a comentários como se de um vulgar artigo de opinião se tratasse. São factos, estudados cuidadosamente e cientificamente. Por mais este, da nossa terra, um agradecimento particular ao Dr. Jaime Gouveia.
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