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quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

«Arqueologia» - Manuscrito referente ao Convento de São Francisco


Pelas mãos do Doutor Alcides Sarmento[1], grande entusiasta da História e dos vestígios arqueológicos, chega-nos um antigo manuscrito referente aos conventos da Congregação da Terceira Ordem, descrevendo nomeadamente o Convento de São Francisco de Caria, que se intitula por Memória dos Conventos da Congregação da Terceira Ordem composta por Fr. Vicente Salgado, sendo oportuno divulgar aqui alguns dos seus excertos:
Folhas 11, 12:“…Gil Vasques, que desenganado do mundo abraçou o Instituto da Terceira Regra de S. Francisco, fazendo doação da sua quinta do Paço a estes Religiosos por escritura celebrada em Caria, nas Casas do Tabelião Rodrigo Afonso, aos 28 dias do mês de Junho de 1443. No terreno pois desta quinta do Paço, se fundou o convento, com sua pequena igreja, campanario, sinos, dormitorios, e mais oficinas precisas ao estabelecimento de uma casa regular. Pediras aqueles Padres a confirmacão da doação à Sede Apostolica logo no mesmo ano; e o Papa Eugenio IV. a confirmou pela Bula, que principia Vobis fidelium, datada em Roma aos 13 de Novembro de 1443”.
F.19: “Foi dia das chagas do Santo Patriarca do anno de 1445, que se benzeo a Igreja primitiva, cantandose a primeira Missa”
F.27: “O espírito de penitencia, reduzido á vida solitaria, que fazia a paixão, e systema daquelles séculos, levou os Religiosos desta casa ao ermo, e a viver em estreita pobreza, intitulando se Pobres eremitas”.
F. 32, 33, 34: “Era a pobreza o grande património daquella Casa; como attesta o sabio, venerando, e respeitavel visitador, e geral de Alcobaça Fr. Guilherme da Paixão, na conta que deo da sua visita ao Cardeal Legado, e Governador do Reyno o Archiduque Alberto, no anno de 1587 (…) Comião/ vai fallando deste convento de Caria/, pão de centeio, e poucos legumes, servindo os pedreiros nas Obras, e bebião agoa, deixando, e reservando o vinho que tinhão colhido da cerca, para pagarem aos officiaes; e ainda assim jejuavão, e satisfazião as obrigações regulares do Coro, e disciplinas; e finalmente tritavão com muito frio, só abrasados no serviço de seo Deos. (…) Em 1590 El Rey Fillipe Prudente, primeiro deste nome em Portugal, concedeo aos conventos de S. Francisco de Caria; Nossa Senhora dos Villares, e Nossa Senhora do Valle, por merce, e esmolla hum quarto de azeites todos os annos; a cada hum destes conventos; estabelecendo se a esmolla, e graça desta Casa de Caria no Almoxarifado de Lamego. E em 1592, fez o mesmo soberano merce e esmolla ao dito convento de duas carradas de lenha em cada mez, de cada huma das mattas de Leomil; e Pera em quanto não determinasse o contrario: sendo passado o dito Alvará a 18 de Outubro do mesmo anno.”
F. 38, 39: “Pelo Alvará do Senhor Rey Dom João IV. de 16 de Novembro de 1644, com vencimento de 13 de Julho do anno precedente, vem esta Casa de Caria contemplada, entre as demais da Congregação, com huma arroba de cera, e outra de assucar. Havendo o costume de se fazer huma Feira, dia de N. P. S. Francisco, no terreno junto ao convento; o Senhor Rey Dom Pedro II fez merce ao Ministro, e Padres do Mosteiro de Caria, das Cisas da dita Feira, por tempo de dez annos para os Religiosos acudirem com esta esmolla a alguns reparos daquella casa. Foi passado o Alvará a 30 de Setembro de 1683, e publicado na Chacellaria a 16 de Outubro do dito anno. Ha também do mesmo Monarca o Alvará para nos açougues vizinhos darem a porção de carne necessaria para a comida dos Religiosos deste convento; em data de 5 de Fevereiro de 1684; e passado pela Chancellaria aos 26 do dito mez, e anno.”     

 (cont.)

Publicado no Jornal Beirão (74.ª edição)


[1]Designadamente Diretor do Agrupamento de Escolas de Moimenta da Beira e Presidente da Assembleia Municipal de Moimenta da Beira.


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