Em
Janeiro de 1965 arrancou em Portugal a telescola, um sistema de ensino via
televisão. O objetivo foi proporcionar o ensino direto a alunos a frequentar os
quatro anos de escola primária e os dois de ciclo preparatório em localizações
remotas. O programa evoluiu até ao início do século XXI, tendo nesta fase final
foco em quem não se encontrasse na idade normal de frequência escolar.
Em
Abril de 2020 arrancará em Portugal a “nova” Telescola, baptizada de
#EstudoEmCasa, um sistema de ensino igualmente via televisão. O
objetivo é proporcionar, mais uma vez, o ensino direto a todos os alunos do 1º
ao 9º ano de escolaridade que, deste vez devido à pandemia da COVID-19, não
podem regressar às suas escolas entretanto fechadas por razões de saúde pública.
Há
55 anos a distanciar cada uma destas iniciativas. Nesse período o mundo viu
pessoas na Lua, Portugal fez cair uma ditadura, entrou na então chamada
“Comunidade Económica Europeia” (hoje União Europeia), o muro de Berlim foi
derrubado, vivemos oficialmente três crises (da dívida soberana em 1977, 1983 e
2011), para citar apenas alguns eventos marcantes, sinais de progresso.
Provavelmente
a maior alteração global vista foi, contudo, a revolução digital. Por exemplo,
ao nível dos computadores, um
iPhone em 2019 tem uma capacidade de processamento 100 000 vezes superior ao
computador usado na nave da missão Apollo 11 quealuou pela primeira vez em 1969.
Com essa evolução exponencial veio a internet e as suas imensas possibilidades
de nos ligarmos, comercial- e pessoalmente.
Ainda
assim, é caso para dizer que nem todos os países têm a mesma velocidade de
ligação.
Por
exemplo, em Portugal, arrisco a dizer que a forma mais barata e fácil de aceder
à internet é pelo telemóvel. Em
2018, 96,8% dos portugueses tinha telemóvel, mas apenas 73,6% tinha internet no
mesmo, o que colocava o país em 27º (num total de 28) no ranking da União
Europeia. Em termos práticos, estamos mais isolados e com menos acesso
e informação a conhecimento do que a maior parte dos europeus.
Em
2020, a crise da COVID-19 põe ainda mais à vista esse atraso. A falta de acesso
é tanta (em especial em alguns gabinetes ministeriais?) que nos leva a recorrer
a uma solução tecnológica de há 55 anos. Se nessa altura o desafio era as
crianças portugueses não terem acesso à escola, hoje o desafio é as crianças
portuguesas não terem acesso à internet (com computador funcional em casa) e,
nos próximos três meses, não poderem continuar o seu ensino.
É
crítico que o acesso à internet seja democratizado e elevado a direito
constitucional, tal como acesso à educação nos anos 60. Além de fundamental na
educação e como ferramenta de colaboração, com ou sem vírus, precisamos desse
acesso para estar permanentemente a par dos últimos casos de inovação e
sustentabilidade. Caso contrário vamos continuar a procurar soluções em livros
de história. E provavelmente a cometer os mesmo erros.
Autor: Sérgio Dias, Moimentense radicado em Copenhaga (Dinamarca)
desde 2014.
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