domingo, 25 de julho de 2010

Assassino de universitária aparece morto na cadeia

Foi aberto inquérito no estabelecimento prisional. Tio da jovem assume que sente "um alívio" pela morte do homicida. Pais de Maria José Maurício não superaram a perda.


Enforcado. Com um lençol. Pés amarrados. Corpo pendurado na grade da janela com a cara virada para a rua, do alto da ala C. Nem três anos passaram desde a noite de Setembro em que Manuel Assunção, estudante universitário, degolou a ex-namorada, por ciúmes. Foi condenado a 16 anos de prisão. Ontem de manhã foi encontrado morto na cela do Estabelecimento Prisional de Coimbra.

Às primeiras horas do dia, na ronda antes do pequeno-almoço, os guardas encontraram o corpo de Manuel Assunção. Uma equipa do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) foi chamada ao local e ainda tentou algumas manobras. Em vão. Foi declarado o óbito. Tudo terá ocorrido depois das 03.00 (hora de "ronda de conto", procedimento repetido antes do pequeno--almoço).

A rotina matinal do EPC foi agitada pela chegada e partida de carros-patrulha da PSP e, depois, de um carro funerário. O presidente do Instituto Nacional de Medicina Legal de Coimbra (INML), Duarte Nuno Vieira, disse ao DN que a autópsia será realizada amanhã.

Em Coimbra o caso marcou a comunidade estudantil. Estávamos em 2007 e o Verão ainda estava quente. Manuel degolou a ex-namorada, Maria José Maurício, de 20 anos, com uma faca de cozinha. Eram ambos alunos de Engenharia Civil da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. Manuel atraiu a jovem a um local ermo - onde muitas vezes namoraram - e agrediu-a fatalmente. Depois entregou-se à patrulha da Escola Segura da GNR ainda ensanguentado e com ferimentos nas mãos.

"Não ficámos contentes nem satisfeitos, mas é um alívio esse indivíduo ter deixado de existir", disse ao DN, Virgílio Souto, tio de Maria José Maurício, jovem natural de Gaia com raízes familiares em Cabaços/Moimenta da Beira. Alberto e Helena Maurício perderam a única filha. A custo, seguem em frente, apáticos. Ainda hoje, a mãe não consegue ir a alguns sítios que a jovem frequentava. "Nesta altura, esses pais [de Manuel] estão a sentir a morte de um filho. Daí até dizer que estou satisfeito, não, não estou nada e os pais da Maria também não", diz Virgílio Souto.

Os pais de Manuel Assunção foram informados da morte, logo de manhã, pelos serviços prisionais. "Estavam a passar o fim-de-semana em Buarcos [Figueira da Foz] e ficaram em estado de choque", disse ao DN um familiar próximo. Ele "estava a surpreender todos. Tinha acabado o curso de Engenharia, na prisão, estava a reagir muito bem". Porém, "desde há muito" que Manuel Assunção "apresentava alguns problemas, mas nada que fizesse prever esta situação". Na prisão, era o responsável pela biblioteca. O Supremo Tribunal de Justiça reduziu-lhe a pena de primeira instância de 16 para 14 anos, o que, para a família, "estava a contribuir para que ele ultrapassasse" os factos.

Mas as tendências suicidas "estavam vincadas. Já em 2007 ele teve uma fase assim, pouco antes do crime, e recebeu acompanhamento psiquiátrico", conta o familiar. "Ele no julgamento deixou entender que estava inconformado com o que fizera e deve ter amadurecido um sentimento de culpa profunda." Ontem à tarde, Adelaide Assunção e o marido estiveram na prisão a tratar das formalidades.

No julgamento, Manuel invocara culpa e disse não se recordar de nada. O poster científico com as marcas da violência no corpo de Maria José está afixado numa das salas de acesso restrito do INML. Agora será o corpo de Manuel, de 26 anos feitos no mês passado, que será objecto de análise dos peritos forenses. Está aberto o inquérito às circunstâncias desta morte.
Fonte: DN

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