Tal como as alminhas, intimamente associadas a um percurso espiritual (Calvário, Via-Sacra, Caminho de Peregrinação), a antigos rituais, tradições, crenças, superstições e até mesmo práticas mágicas, os cruzeiros constituem autênticos testemunhos de religiosidade popular e é também com alguma abundância que os encontramos, no concelho moimentense, junto de igrejas e capelas, nos cemitérios, em encruzilhadas, à beira de caminhos, assim como em locais de encontro e de referência da vida diária das nossas gentes.
Em pedra (embora raramente surjam também em madeira) e de várias dimensões (sendo muito frequentes entre os 3 e 5 metros de altura), são estruturalmente formados por uma plataforma (base) de alguns degraus (habitualmente três), de feição quadrangular, octogonal, triangular, poligonal ou circular, sobre a qual se ergue um pedestal, quadrangular ou cúbico, com fuste (coluna) coroado por um capitel sobre o qual assenta a cruz. Esta, normalmente apenas uma e numa só peça, é o elemento mais importante do monumento, aquele que lhe dá o nome e, como o fuste, pode assumir um recorte redondo, quadrangular ou octogonal, imitando, por vezes, o tronco de uma árvore e conter ainda (no caso dos mais elaborados artisticamente) os seguintes elementos decorativos e figurativos:
• Jesus crucificado (ver imagem I) é a figura mais característica com variantes na expressão, na colocação das mãos e dos pés, na vestimenta. Aparece na face anterior orientada ao caminho principal.
• As ferramentas utilizadas na crucificação de Jesus ou objectos relacionados com a Paixão: o chicote, a coroa de espinhos, o martelo, os pregos, as tenazes, etc.
• Virgem representada com o corpo morto de Jesus nos braços (Pietà); com o coração atravessado por um ou vários punhais (tradicionalmente sete, recordando os momentos mais dolorosos da sua vida); com os dedos cruzados sobre o peito; em atitude orante; com a criança nos braços; entre anjos; dando o peito ao filho, etc. Aparece geralmente na face posterior da cruz.
• O Espírito Santo, Santos e Santas (São João, São Tiago, São Francisco, Santa Luzia, etc.), Anjos, o Demónio, Adão e Eva e o Pecado Original.
• A morte representada por uma caveira geralmente acompanhada de dois ossos cruzados (imagem I).
• Figuras não religiosas, simbolizando por exemplo a Agricultura, a Justiça, etc.
• Inscrições com o nome de quem erigiu ou mandou erigir o monumento, a data da sua edificação, etc. Por exemplo, no pedestal do cruzeiro do Largo do Mártir, em Paradinha (ver imagem II), é possível identificar uma inscrição com as siglas IHS que significam Jesus.
1 Nalguns casos, acompanhados de uma mesa e/ou altar.
José Carlos Santos
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