Há
50 anos o povo de Vila Cova de Caria, uma aldeia do concelho de
Moimenta da Beira, foi preso pela GNR e levado a tribunal por estar a
defender uma mata de pinheiros, um terreno baldio de 7 hectares
registado em nome da diocese, que a Junta de Freguesia de então
reivindicava para si. A contestação ficou conhecida como a “Revolução da
Mata de Santo André” e a efeméride vai ser assinalada este domingo, 30
de novembro, com missa, festa e a inauguração de uma lápide a recordar a
revolta popular.
O
caso passou-se em Janeiro de 1964 e arrastou-se por dois penosos anos
no Tribunal de Moimenta da Beira. No fim, ninguém do povo foi condenado,
nem mesmo os seis ‘cabecilhas’ da sublevação. A sentença da absolvição
foi ditada pelo então juiz de Moimenta José Marques Vidal, antigo
director nacional da PJ, hoje com 84 anos, e pai da actual
Procuradora-Geral da República Joana Marques Vidal.
Mas
durante o interrogatório conduzido pelo delegado do Procurador da
República (não pelo juiz), conta uma testemunha viva que cinco dos
homens detidos “passaram a noite presos com luzes viradas para os olhos e
com o delegado a pedir-lhes que dissessem, a todo o custo, que a mata
pertencia à Junta de Freguesia. Nenhum cedeu à pressão”.
Quem
se lembra na aldeia daqueles dias de rebelião, fala deles com orgulho.
“Povo unido como o de Vila Cova não há”, recorda Maria do Céu, 85 anos,
viúva de António Julião, autor dos 54 versos que relatam em rima toda a
insurreição popular. “Os sinos tocaram a rebate quando o povo soube que a
Junta andava lá na mata a cortar pinheiros. Juntamo-nos todos e fomos
impedir que aquilo continuasse. A mata é nossa, é do nosso Santo André”,
lembra Maria do Céu que entoa de cor algumas das rimas escritas pelo
marido: “Vila Cova cantai vitória / que a jornada foi triunfal / para
glória da nossa história / menos de quem nos quer mal”.
Muitas
das quadras são autos de fé dedicados a Santo André que, segundo o
povo, por inspiração divina terá contribuído para o final feliz:
“Milagroso Santo André / a tua alma é santa / já livraste o teu povo /
de caminhar para Moimenta”.
“Ainda
me lembro de ver o meu pai ser metido à força no jipe da GNR”, conta
Maria José, que tinha então apenas 8 anos de idade, filha de Lúcio
Pereira, o segundo homem do povo a ser preso pelos guardas.
Ao
todo foram detidos para interrogatório 40 pessoas e 21 destas foram
levadas para o posto da GNR. “Andava tudo em alvoroço. Só se viam jipes
da GNR na aldeia e homens com machados às costas”, recorda Maria do
Carmo, também filha de Lúcio Pereira.
Fonte: CMMB
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