A Câmara de Viseu está a ponderar avançar com uma
providência cautelar para impedir a saída do helicóptero do INEM do aeródromo
de Viseu. A aeronave, anunciou na segunda-feira (1 de junho) o Instituto, vai
ser reposicionada a partir de quinta-feira (dia 4) em Loures. Com esta saída, a
região Centro fica sem socorro aéreo do INEM.
O autarca Almeida Henriques salienta que se o helicóptero
saísse de Viseu para Santa Comba Dão, onde sempre esteve estacionado até ter
sido obrigado a sair por falta de condições da pista, não se ia pronunciar, mas
como vai para a região de Lisboa diz que não pode ficar calado e espera que a
Comunidade Intermunicipal (CIM) Viseu Dão Lafões tome uma posição firme.
“Nem eu nem os meus colegas poderemos aceitar que o Governo
retire daqui o helicóptero nem que seja necessário meter uma providência
cautelar amanhã porque se está a pôr em causa o socorro às pessoas. Hoje (dia
2) mesmo vai ser levada uma proposta para que a CIM tome uma posição de repudio
e que a providência seja interposta por esta entidade que tem outro peso, mas
se assim não acontecer a Câmara de Viseu avança com ela”, sublinhou o
presidente da Câmara.
A deslocalização do helicóptero vai estar em discussão na
reunião marcada para esta tarde entre os 14 representantes dos concelhos que
englobam a CIM. Entre eles Aguiar da Beira, cujo presidente da Câmara, Joaquim
Bonifácio, lembra que tem à disposição no seu concelho um heliporto onde foi
investido meio milhão de euros.
“Lamento profundamente que isto tenha acontecido, lamento
que as entidades responsáveis não nos tenham contactado. O heliporto tem todas
as condições de receber qualquer tipo de aeronave. Sei que no ultimo mês vieram
cá os helicópteros para ver como estava a pista e, de um momento para o outro,
vai para a zona de Lisboa”, sustentou o autarca, afirmando que o
descontentamento tem de chegar “a quem de direito”. “Fez-se o investimento,
temos a pista e o helicóptero vai para Loures, é isto o que se pensa do
Interior? Continuamos a ser pequeninos”, desabafou.
Segundo Joaquim Bonifácio, a CIM, que já tinha discutido o
assunto no âmbito das suas competências, “não pode ficar quieta”.
O helicóptero de emergência médica do INEM vai deixar o
Aeródromo Municipal de Viseu e segue para Loures na próxima quinta-feira. Uma
decisão que está a deixar as autoridades de saúde e civis apreensivas com a
falta de resposta de socorro diferenciadora em toda a região centro. Com o
helicóptero vai também a equipa da VMER (Viatura Médica de Emergência e
Reanimação).
José Requeijo, representante da Liga de Bombeiros no
distrito, considera incompreensível a saída da aeronave da região. “É uma
decisão fora do contexto do que se quer de um meio aéreo de primeira
intervenção. Vamos ficar aqui com um vazio de cobertura muito grande e pode pôr
em causa o socorro às vítimas e a quem necessitar da sua intervenção”, disse o
também comandante dos Voluntários de Moimenta da Beira, lembrando que a região
é atravessada por vários vias de comunicação com bastante trânsito,
nomeadamente o IP3 e a A25.
Já o comandante dos Bombeiros Voluntários de Santa Comba
Dão, Hélder Costa, afirmou também estar preocupado com a falta de uma resposta
na área do socorro no distrito, mas otimista que a aeronave regresse “à casa
mãe”.
Em outubro de 2019, o INEM solicitou ao município de Viseu a
permanência do seu helicóptero no aeródromo municipal, devido à
inoperacionalidade do heliporto de Santa Comba Dão, uma situação que seria
temporária enquanto a pista a sul do distrito não reunisse as condições para
voltar a receber a aeronave que ali esteve estacionada nos últimos anos.
O regresso a Santa Comba Dão, segundo o deputado do PS, José
Rui Cruz, vai ser uma realidade. O socialista acredita que dentro de dois meses
a pista de Santa Comba Dão vai estar pronta. Menos confiante está o deputado do
PSD, Pedro Alves, que já questionou o Governo através da Assembleia da
República.
Também o presidente da Comissão Política Distrital do CDS,
Francisco Mendes da Silva, afirmou "trata-se de uma decisão técnica e
politicamente errada, que agrava a situação de discriminação negativa de que o
Interior e a Região Centro sofrem".
Ainda na segunda-feira, quando foi conhecida a decisão do
INEM, o presidente da Câmara de Viseu disse ter sido surpreendido com o
anúncio, lamentando os “argumentos pouco sólidos que estão na base desta
decisão”.
O comunicado do Instituto Nacional de Emergência Médica
(INEM) foi conhecido ao final da tarde de segunda-feira. Nele, lê-se que o
helicóptero vai ser relocalizado temporariamente no heliporto de Salemas, em
Loures, de forma a manter a operacionalidade deste meio aéreo e “sempre no
cumprimento estrito de todos os requisitos e normas aplicáveis à operação
aeronáutica”.
No Aeródromo de Viseu, a aeronave "pernoitava" no
hangar da empresa IFA – Aviation Training Center. Agora, como o hangar é
necessário para a atividade da escola, o helicóptero ficou
"desalojado".
A questão da utilização do hangar do IFA já se tinha
colocado em fevereiro. na altura, o Jornal do Centro deu conta que o
"despejo" estava iminente. Também na altura, o INEM disse que se
“encontrava a trabalhar várias possibilidades, em articulação com outras
entidades, para encontrar a melhor solução”.
Fonte: Jornal do Centro