quinta-feira, 3 de abril de 2025

«Notícia» - GNR põe fim a 20 anos de falsos peditórios dos bombeiros

Um grupo hierarquizado e com várias células acumulou muitos milhares de euros, nos últimos 20 anos, com falsos peditórios para os bombeiros. O esquema estendeu-se a todo o país e, suspeita a investigação da GNR, terá tido a cobertura da Associação Portuguesa de Veteranos de Guerra. Esta instituição foi alvo de buscas ontem, no âmbito da Operação “The Scheme”, que levou os militares a Braga, Moimenta da Beira, Loures ou Pombal. No final, oito pessoas e duas entidades foram constituídas arguidas por burla, branqueamento de capitais e associação criminosa.

O esquema era simples. Um grupo de três ou quatro pessoas instalava-se junto a semáforos, cruzamentos ou rotundas de diferentes cidades e abordava os automobilistas que ali eram obrigados a parar. Fardados integralmente ou envergando um colete vermelho da Associação Portuguesa de Veteranos de Guerra, os operacionais facilmente se confundiam com bombeiros e pediam um donativo para a compra de uma ambulância para a corporação local. Esta, porém, nada sabia do que estava a acontecer e nunca recebia qualquer verba.

Se tudo corresse de acordo com o planeado, o grupo abandonava o local na posse da quantia angariada durante várias horas, mas se a GNR ou a PSP fossem alertadas para o falso peditório, a desculpa estava preparada: os burlões diziam que estavam a vender bilhetes para um sorteio promovido pela Associação Portuguesa de Veteranos de Guerra e devidamente autorizado pelo Ministério da Administração Interna (MAI). Dessa forma, evitavam qualquer problema com a Justiça.

Burla era modo de vida

A investigação, que começou em 2020 e foi conduzida pelo Núcleo de Investigação Criminal de Viseu, suspeita que os responsáveis da Associação Portuguesa de Veteranos de Guerra deram cobertura à burla, recebendo uma percentagem dos lucros obtidos com os falsos peditórios. O último relatório e contas da instituição mostra que, em 2023, esta auferiu mais de 70 mil euros com um “sorteio nacional”, que, no ano anterior, lhe rendera 95 mil euros.

Quem também recebia uma percentagem do dinheiro angariado eram os autores dos falsos peditórios. Muitos deles faziam da burla o seu modo de vida. O restante montante era distribuído pelos elementos de topo da organização, incluindo o líder, que tem residência em Lisboa.

Ao Jornal de Notícias, a GNR confirma que, ontem, foram constituídos como arguidos oito homens, entre os 24 e os 65 anos, mais duas instituições. Todos estão indiciados por burla, branqueamento de capitais e associação criminosa, mas nenhum deles foi detido.

Liga fez queixas às autoridades

O presidente da Liga dos Bombeiros, António Nunes, assegura que há vários anos que são feitas queixas nas autoridades devido a falsos peditórios para associações humanitárias. “São feitos por grupos de pessoas, que se vestem com uma farda vermelha, que se confunde com a dos bombeiros”, para enganar os automobilistas. “Algumas pessoas fazem-no há muito tempo e outras são novas”, diz.

Operação

Fardas apreendidas

A GNR apreendeu ontem dezenas de fardas semelhantes às dos bombeiros e outros bens associados a corporações. Também foram recolhidos extratos de transferências e depósitos bancários, alguns internacionais.

Quase 70 militares

A Operação “The Scheme” foi liderada pelo Núcleo de Investigação Criminal da GNR de Viseu e executada por 68 militares, também dos comandos da GNR de Braga, Leiria e Lisboa. A Direção de Investigação Criminal participou igualmente nas diligências.

Apreensão

27 mil euros foram apreendidos nas 20 buscas em Moimenta da Beira, Braga, Magoito (Sintra), Amadora, Queluz, Agualva-Cacém, Loures e Pombal.

Fonte: JN.pt

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