É este o pelourinho de Moimenta da Beira?
Não, não é, muito embora haja aqui e acolá quem o afirme. Não apenas de boca em boca como também num folheto informativo que recentemente que me veio parar às mãos. O monumento visível na imagem é um cruzeiro recente. Numa plataforma de três degraus quadrangulares, assenta o conjunto da base com sinal cruciforme em alto-relevo, coluna, capitel com escudo português, e remate em esfera armilar encimada de uma cruz da Ordem de Cristo.
Os cruzeiros parecem ter tido três tipologias funcionais: uma que serve para assinalar fisicamente um percurso espiritual e simultaneamente físico de uma determinada cerimónia religiosa (procissão); outra que tem a ver com a protecção das pessoas viventes das almas penadas, “que costumam habitar as encruzilhadas dos caminhos e estradas”; e uma última função que se presta à recordação - função memorialista. O cruzeiro/padrão de Moimenta da Beira, enquadra-se nesta última.
Ao longo da História de Portugal foram vários os pelourinhos que deram origem a cruzeiros, embora não tenha sido o caso do de Moimenta da Beira. Os padrões com as armas portuguesas e a esfera armilar que alguns destes cruzeiros comportam têm origem nos tempos dos Descobrimentos Marítimos. Nessa altura, os portugueses edificavam estes padrões em colunas de pedra, com o objectivo de afirmar a soberania portuguesa no local onde eram colocados. Por conseguinte, alguns datam de tempos longínquos, outros são de feitura recente, como aqueles que se destinaram a comemorar os centenários de alguns marcos da nossa História. É o caso do de Moimenta da Beira.
Os cruzeiros, padrões por excelência da fé cristã, são também símbolos iconográficos da cultura ocidental. Colocados nas ruas, nas bermas das estradas, nos largos, nos campos ou nos montes, apenas alguns constituíam um passo, ou paragem, de uma procissão, mas todos monumentalizaram e sacralizaram os lugares onde se encontram. Por muitos deles, os nossos antepassados nutriam a sua mais ardente devoção. Alguns são de granito singelo, sem relevo nem imagens. Outros, têm uma elevada riqueza artística, onde os ignorados canteiros do passado deram largas ao seu imaginário e materializaram no duro granito, com rudes mãos, a sua arte sentida.
De Norte a Sul têm surgido algumas dúvidas relacionadas com a classificação e desclassificação de pelourinhos e cruzeiros. As arenas constituídas em torno destes elementos históricos explicam-se pela importância que as comunidades atribuem à História, esgrimindo argumentos no sentido de atestar as suas origens e raízes longínquas. Contudo, não há margem para incertezas em Moimenta da Beira. Nos livros “Foral e Pelourinho de Moimenta da Beira” e “Os oito concelhos de Moimenta da Beira”, A. Bento da Guia indica o que aconteceu ao verdadeiro pelourinho que Moimenta, por ter sido concelho de justiças próprias, teve no passado.
A existência de um pelourinho em Moimenta é um dado histórico comprovado. Nos livros paroquiais aparecem menções a moradores na Rua do Pelourinho, a qual, segundo se crê é aquela que sobre do pequeno largo contíguo à Casa dos Guedes e a antiga Casa do Povo, para o Tablado. Em 18 de Janeiro de 1874 o vice-presidente da Câmara Municipal de Moimenta da Beira, comendador João de Macedo Araújo e Costa, futuro Conde da Lobata, requereu à Câmara que “fosse demolido o Poleirinho desta vila” e autorizar o Exm.º Presidente, Barão de Moimenta da Beira, a “dar à pedra o destino que julgasse conveniente.” Em 29 de Novembro do mesmo ano, o presidente da autarquia afirma em reunião da vereação, que vendera por mil réis a José Maria dos Santos, alfaiate, a pedra extraída da fraga do Pelourinho, a qual se achava depositada na Praça Camões (terreiro das freiras), antiga praça D. Luís I.
As lutas liberais grassaram com intensidade em Moimenta da Beira. Fortes partidários dos liberais, os moimentenses ficaram para a posteridade com a alcunha de malhados. As novas concepções políticas liberais opunham-se ao municipalismo antigo forjado no senhorialismo e que tinha no pelourinho o símbolo de uma autonomia de justiça. Neste contexto, foram muitos os pelourinhos derrubados, destruídos ou vendidos. Como o de Moimenta, o de Nagosa foi vendido a um particular, desconhecendo-se hoje o seu paradeiro.
Não, não é, muito embora haja aqui e acolá quem o afirme. Não apenas de boca em boca como também num folheto informativo que recentemente que me veio parar às mãos. O monumento visível na imagem é um cruzeiro recente. Numa plataforma de três degraus quadrangulares, assenta o conjunto da base com sinal cruciforme em alto-relevo, coluna, capitel com escudo português, e remate em esfera armilar encimada de uma cruz da Ordem de Cristo.
Os cruzeiros parecem ter tido três tipologias funcionais: uma que serve para assinalar fisicamente um percurso espiritual e simultaneamente físico de uma determinada cerimónia religiosa (procissão); outra que tem a ver com a protecção das pessoas viventes das almas penadas, “que costumam habitar as encruzilhadas dos caminhos e estradas”; e uma última função que se presta à recordação - função memorialista. O cruzeiro/padrão de Moimenta da Beira, enquadra-se nesta última.
Ao longo da História de Portugal foram vários os pelourinhos que deram origem a cruzeiros, embora não tenha sido o caso do de Moimenta da Beira. Os padrões com as armas portuguesas e a esfera armilar que alguns destes cruzeiros comportam têm origem nos tempos dos Descobrimentos Marítimos. Nessa altura, os portugueses edificavam estes padrões em colunas de pedra, com o objectivo de afirmar a soberania portuguesa no local onde eram colocados. Por conseguinte, alguns datam de tempos longínquos, outros são de feitura recente, como aqueles que se destinaram a comemorar os centenários de alguns marcos da nossa História. É o caso do de Moimenta da Beira.
Os cruzeiros, padrões por excelência da fé cristã, são também símbolos iconográficos da cultura ocidental. Colocados nas ruas, nas bermas das estradas, nos largos, nos campos ou nos montes, apenas alguns constituíam um passo, ou paragem, de uma procissão, mas todos monumentalizaram e sacralizaram os lugares onde se encontram. Por muitos deles, os nossos antepassados nutriam a sua mais ardente devoção. Alguns são de granito singelo, sem relevo nem imagens. Outros, têm uma elevada riqueza artística, onde os ignorados canteiros do passado deram largas ao seu imaginário e materializaram no duro granito, com rudes mãos, a sua arte sentida.
De Norte a Sul têm surgido algumas dúvidas relacionadas com a classificação e desclassificação de pelourinhos e cruzeiros. As arenas constituídas em torno destes elementos históricos explicam-se pela importância que as comunidades atribuem à História, esgrimindo argumentos no sentido de atestar as suas origens e raízes longínquas. Contudo, não há margem para incertezas em Moimenta da Beira. Nos livros “Foral e Pelourinho de Moimenta da Beira” e “Os oito concelhos de Moimenta da Beira”, A. Bento da Guia indica o que aconteceu ao verdadeiro pelourinho que Moimenta, por ter sido concelho de justiças próprias, teve no passado.
A existência de um pelourinho em Moimenta é um dado histórico comprovado. Nos livros paroquiais aparecem menções a moradores na Rua do Pelourinho, a qual, segundo se crê é aquela que sobre do pequeno largo contíguo à Casa dos Guedes e a antiga Casa do Povo, para o Tablado. Em 18 de Janeiro de 1874 o vice-presidente da Câmara Municipal de Moimenta da Beira, comendador João de Macedo Araújo e Costa, futuro Conde da Lobata, requereu à Câmara que “fosse demolido o Poleirinho desta vila” e autorizar o Exm.º Presidente, Barão de Moimenta da Beira, a “dar à pedra o destino que julgasse conveniente.” Em 29 de Novembro do mesmo ano, o presidente da autarquia afirma em reunião da vereação, que vendera por mil réis a José Maria dos Santos, alfaiate, a pedra extraída da fraga do Pelourinho, a qual se achava depositada na Praça Camões (terreiro das freiras), antiga praça D. Luís I.
As lutas liberais grassaram com intensidade em Moimenta da Beira. Fortes partidários dos liberais, os moimentenses ficaram para a posteridade com a alcunha de malhados. As novas concepções políticas liberais opunham-se ao municipalismo antigo forjado no senhorialismo e que tinha no pelourinho o símbolo de uma autonomia de justiça. Neste contexto, foram muitos os pelourinhos derrubados, destruídos ou vendidos. Como o de Moimenta, o de Nagosa foi vendido a um particular, desconhecendo-se hoje o seu paradeiro.
Autor: Jaime Ricardo Gouveia
2 comentários:
Mais uma grande crónica.
Parabéns Jaime.
Abraço
JABC disse:
Se tem as datas 1140 e 1640 trata-se de um cruzeiro da Independência
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