sábado, 29 de agosto de 2009

"Região" - Baga do sabugueiro vive tempos de mudança


Tradicionalmente exportada seca, a baga do sabugueiro da região do Varosa está a passar por uma mudança de paradigma, com a abertura esta semana de uma unidade que permite refrigerá-la e congelá-la em Dalvares, Tarouca.


A sua cor violeta e o seu elevado grau de açúcar levam a que há décadas seja exportada para a Alemanha, para um dos maiores produtores de concentrado da Europa, percorrendo quase três mil quilómetros, apesar de bem mais próximos estarem grandes produtores como a Polónia, a Hungria, a Bulgária e o Kosovo.

Com a nova unidade da Regiefrutas, os produtores deixam de ter de a secar antes de comercializar, o que obrigava a muita mão-de-obra, espaço para a estender e boas condições climatéricas. Agora apenas têm de apanhar os cachos e levá-los de imediato para a unidade, um projecto de 3,5 milhões de euros.

"Se Deus deixar isto ir avante é uma grande coisa. Porque a baga dá muito trabalho a secar: é preciso apanhá-la, sacudi-la numa criva, pô-la a secar, passados mais três ou quatro dias esfregá-la senão fica toda presa", explicou Vítor Osório Lima, de 77 anos, que foi para a fila logo no primeiro dia de abertura da unidade.

O mesmo fez Herculano Pestana, de 54 anos, cuja baga foi considerada a melhor do dia, atingindo 23,6 de brix (grau de adoçante).

"Pelos vistos foi de boa qualidade. Foi a melhor que apareceu, vou ganhar um prémio", gracejou, satisfeito por poder deixar de ter "canseiras que arruínam a coluna".

O director da unidade, Rogério Martinho, acredita que esta é uma nova fase para os produtores de baga dos concelhos de Tarouca, Lamego, Armamar, Moimenta da Beira e Tabuaço, cujas autarquias deram as mãos para que este projecto fosse uma realidade.

"O vinho não é alternativa, apesar de estarmos aqui numa região delimitada, do Varosa, e as frutas a mesma coisa. Nem essas culturas hoje correspondem às necessidades de rendimento dos agricultores", frisou.

A Organização de Produtores Agrícolas do Varosa (OPAV), que trabalha com a Regiefrutas, tem já 600 associados, mas estima que existam na região 800 a 900 agricultores que produzem baga, "com um potencial de crescimento muito grande".

A baga é essencialmente usada na indústria agro-alimentar. O responsável disse que serve, por exemplo, para fazer compotas, rebuçados, bebidas, iogurtes e para amaciar e dar cor ao vinho.

"Há uma vasta área e segmentos do sabugueiro que estamos a explorar e seguramente vai ser o futuro aqui da região", frisou, aludindo ao sector farmacêutico e também ao cosmético.

Nesta altura, a produção estimada é de entre 4000 e 4500 toneladas. Este é um ano de arranque para a unidade, que começou a funcionar já no final da campanha, mas para o próximo deverá receber e tratar 2500 toneladas.

"Quando completarmos os cinco anos já pensamos atingir a totalidade da produção", explicou.
Mário Ferreira, presidente da Câmara de Tarouca, frisou a importância da baga "para a economia e para o sustento de todo um sector agrícola" da região, explicando que neste momento o preço estipulado é de 30 cêntimos por quilo (fresca), que pode baixar para 25 cêntimos se os camiões regressarem sem outras matérias-primas a Portugal.

"A baga sempre deu muito dinheiro ao agricultor, o que não havia era uma tecnologia para se poder rentabilizar", realçou, explicando que a nova unidade permite "colocar o produto no mercado a custos muito mais vantajosos para o agricultor".



Fonte: Lusa/SOL

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