Arnas: alguns pormenores da sua História
Segundo o padre Luís Cardoso, no seu Dicionário, escrito em 1747, Arnas pertencia ao Distrito de Entre Côa e Távora, comarca de Pinhel, termo de Sernancelhe. Tinha 86 vizinhos. Dizia o mesmo: “Está situado em hum baixo, ou ladeira virada para o Norte, donde somente se descobre o lugar da Taboinha. A Igreja paroquial deste lugar está fundado no cimo do povo e fora delle.” O padre era apresentado pelo comendador de Sernancelhe e tinha de renda 40 medidas de centeio, 10 de trigo, 10 de milho e as primícias dos vinhos. Eram 6 as ermidas existentes, entre as quais a de S. Sebastião que já tinha sido matriz. Os frutos mais abundantes eram o trigo, milho, centeio, feijão e castanha. A actividade predominante era a agricultura.
Dez anos depois, em 1757, dizia Pinho Leal que Arnas, com orago de N. Sra. da Conceição, pertencia já à comarca de Moimenta da Beira e ao concelho de Sernancelhe. Situada na encosta de um monte, era terra bastante fértil e tinha 104 fogos.
Por sua vez, Américo Costa, no seu Dicionário Corográfico, cita o abade Vasco Moreira para explicar o nome Arnas com o facto do local ser assaz arenoso: “o étimo deve ser do Latim arena, areia, isto é, terra de areias.” No entanto, segundo Almeida Fernandes, Arnas tem origem obscura, referindo não ser possível aceitar o latim arenas com a tónica – re. O pré-romano arn significa também concavidade, depressão topográfica. Para outros, o topónimo Arnas, de origem muito antiga (provavelmente romana), deriva directamente do latim arenas (areias). Outras posições atribuem o nome à tribo Lusa das margens do Côa, Colarni citada na ponte romana de Alcântara em Espanha, como atestam sepulturas antropomórficas e diversos vestígios arqueológicos.
Penso ainda que outras interpretações podem ser esboçadas. Que dizer de Arnas ser uma derivação de Arras? Segundo Viterbo, Arra tem origem semita pelo grego “arras, penhor”. Do grego passou para o latim arrhãbó, ou arrhãbónis, de que se vulgarizou a forma abreviada arrha, ou arrhae, donde proveio o português pelo plural arrrhas. Eram constituídas as arras por uma pequena quantia em dinheiro ou por um objecto, por vezes um anel, que uma das partes contraentes, geralmente o comprador, entregava a outro para indicar que o contrato era perfeito e que se chegara a acordo definitivo. Além desta, exerciam ainda as arras a função de sinal ou de garantia para o cumprimento de um contrato.
Em Roma, começou a aplicar-se as arras aos matrimónios, originando-se assim as arrhae sponsaliae, cuja entrega era frequentemente acompanhada de um anel. Mais tarde os romanos transmitiram-no aos Germanos. Já no reino português, empregou-se constantemente o dote sob a designação de arras. A expressão mulher arrada ou recabdada significava que estava legitimamente casada e dotada, ao contrário das barregãs.
Esta terra é depositária hoje de pormenores arquitectónicos de vetusto aspecto. Merece destaque o tecto da nave da igreja matriz (séc. XVI), o qual ostenta uma enorme pintura de Nossa Sra. da Conceição com uma singular iconografia onde um dragão aparece ferido por um raio de fogo atirado simbolicamente por uma criança. A capela de S. João Baptista é um monumento que se distingue também, com seu pórtico românico de rude singeleza. Esta capela foi primitivamente igreja da paróquia. Ao seu lado, no mesmo terreiro, ergue-se do solo uma alta e enigmática pilastra, constituída por um cuidado talhe de blocos de granito lavrados a pico piudo, com ressaibos do românico que, segundo a tradição popular, foi deslocada, para ali, do interior da capela, antiga igreja do povoado. Esta pilastra tem sido, erroneamente, tida como pelourinho. Numa pequena encosta ao nascente da povoação destaca-se uma colossal caverna com abrigo para rebanho de 100 cabeças, envolta em lendas, cujos mistérios o povo foi devassando.
Destaque ainda para o monte Muragos, no cimo do qual foram aparecendo, ao longo do tempo, vestígios arqueológicos, restos de alguma estância luso-romana. Este facto, segundo Vasco Moreira, significa que Arnas foi fundada pelos romanos na altura em que estes dominaram o castelo de Sernancelhe.
Dez anos depois, em 1757, dizia Pinho Leal que Arnas, com orago de N. Sra. da Conceição, pertencia já à comarca de Moimenta da Beira e ao concelho de Sernancelhe. Situada na encosta de um monte, era terra bastante fértil e tinha 104 fogos.
Por sua vez, Américo Costa, no seu Dicionário Corográfico, cita o abade Vasco Moreira para explicar o nome Arnas com o facto do local ser assaz arenoso: “o étimo deve ser do Latim arena, areia, isto é, terra de areias.” No entanto, segundo Almeida Fernandes, Arnas tem origem obscura, referindo não ser possível aceitar o latim arenas com a tónica – re. O pré-romano arn significa também concavidade, depressão topográfica. Para outros, o topónimo Arnas, de origem muito antiga (provavelmente romana), deriva directamente do latim arenas (areias). Outras posições atribuem o nome à tribo Lusa das margens do Côa, Colarni citada na ponte romana de Alcântara em Espanha, como atestam sepulturas antropomórficas e diversos vestígios arqueológicos.
Penso ainda que outras interpretações podem ser esboçadas. Que dizer de Arnas ser uma derivação de Arras? Segundo Viterbo, Arra tem origem semita pelo grego “arras, penhor”. Do grego passou para o latim arrhãbó, ou arrhãbónis, de que se vulgarizou a forma abreviada arrha, ou arrhae, donde proveio o português pelo plural arrrhas. Eram constituídas as arras por uma pequena quantia em dinheiro ou por um objecto, por vezes um anel, que uma das partes contraentes, geralmente o comprador, entregava a outro para indicar que o contrato era perfeito e que se chegara a acordo definitivo. Além desta, exerciam ainda as arras a função de sinal ou de garantia para o cumprimento de um contrato.
Em Roma, começou a aplicar-se as arras aos matrimónios, originando-se assim as arrhae sponsaliae, cuja entrega era frequentemente acompanhada de um anel. Mais tarde os romanos transmitiram-no aos Germanos. Já no reino português, empregou-se constantemente o dote sob a designação de arras. A expressão mulher arrada ou recabdada significava que estava legitimamente casada e dotada, ao contrário das barregãs.
Esta terra é depositária hoje de pormenores arquitectónicos de vetusto aspecto. Merece destaque o tecto da nave da igreja matriz (séc. XVI), o qual ostenta uma enorme pintura de Nossa Sra. da Conceição com uma singular iconografia onde um dragão aparece ferido por um raio de fogo atirado simbolicamente por uma criança. A capela de S. João Baptista é um monumento que se distingue também, com seu pórtico românico de rude singeleza. Esta capela foi primitivamente igreja da paróquia. Ao seu lado, no mesmo terreiro, ergue-se do solo uma alta e enigmática pilastra, constituída por um cuidado talhe de blocos de granito lavrados a pico piudo, com ressaibos do românico que, segundo a tradição popular, foi deslocada, para ali, do interior da capela, antiga igreja do povoado. Esta pilastra tem sido, erroneamente, tida como pelourinho. Numa pequena encosta ao nascente da povoação destaca-se uma colossal caverna com abrigo para rebanho de 100 cabeças, envolta em lendas, cujos mistérios o povo foi devassando.
Destaque ainda para o monte Muragos, no cimo do qual foram aparecendo, ao longo do tempo, vestígios arqueológicos, restos de alguma estância luso-romana. Este facto, segundo Vasco Moreira, significa que Arnas foi fundada pelos romanos na altura em que estes dominaram o castelo de Sernancelhe.
Publicado na última edição do Jornal Terras do Demo
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