domingo, 5 de setembro de 2010

Fundação Aquilino Ribeiro - Gestão poderá ser partilhada por três municípios

Aquilino Ribeiro passou parte da vida em Vila Nova de Paiva, Sernancelhe e Moimenta da Beira. Neste último município, onde o escritor fixou residência, localiza-se a fundação com o seu nome. Cabia à nora do autor, Maria Josefa Campos, presidir o conselho de administração da instituição. Um lugar que ficou vago após o falecimento de Maria Josefa em Fevereiro de 2010. Agora, as três autarquias onde o autor de «A Via Sinuosa» deixou marcas propõem uma gestão partilhada da fundação. A proposta já foi formalizada e aguarda resposta do Conselho de Ministros.

Aquilino Ribeiro (1885-1963) nasceu no concelho de Sernancelhe, foi baptizado em Vila Nova de Paiva e viveu em Moimenta da Beira, localidades do distrito de Viseu. Em Soutosa (Moimenta da Beira), na casa onde viveu, foi constituída, em 1988, a fundação com o seu nome. Até Fevereiro de 2010, esta instituição tinha como presidente do conselho de administração a nora do autor, Maria Josefa Campos, que deixou o lugar vago após a sua morte.

Os estatutos não previam a sucessão da presidência o que colocou a fundação em «gestão corrente», como diz Carlos Sá Furtado, membro do conselho de administração. Para resolver este impasse, os municípios avançaram com uma proposta de gestão partilhada da presidência da Fundação Aquilino Ribeiro. «A proposta feita foi de alteração de estatutos permitindo que os três municípios pertençam ao conselho de administração da fundação que é composto por cinco membros. A proposta foi enviada para Conselho de Ministros e depois de aprovada serão aplicados os novos estatutos. Esperamos que o processo não demore muito tempo», diz o presidente da Câmara de Moimenta da Beira, José Eduardo Ferreira.

O autarca explica: «a fundação vai manter-se integralmente com todos os direitos e deveres que tinha anteriormente. O que se pretende é que o conselho de administração passe a ser gerido pelos três municípios, mas isto não altera as regras de funcionamento da fundação. A gestão será partilhada pelos municípios de Moimenta da Beira, Vila Nova de Paiva e Sernancelhe e, de dois em dois anos, uma das autarquias assume a presidência.

A proposta de alteração de estatutos foi aceite por unanimidade pelos membros do conselho de administração, no entanto um dos vogais, Carlos Sá Furtado, tinha anteriormente apresentado uma solução diferente para a gestão da fundação.

«Eu propus que o conselho de administração deveria ser constituído por três individualidades, tendo como presidente uma personalidade de grande qualidade no domínio cultural. Esta pessoa poderia ser escolhida com intervenção dos três presidentes das câmaras municipais», explica Carlos Sá Furtado, mais acrescentando que «entidades políticas a gerir fundações não é bom, porque elas não podem deixar de transportar para a fundação a sua representação política. Sendo uma fundação cultural, devia ser uma personalidade reconhecida no meio a assumir a presidência para poder negociar com as câmaras, mas também com outras entidades».

O vogal do conselho de administração afirma não ter insistido na sua ideia porque seria começar uma discussão sem sucesso. «Queremos que a fundação continue. Achei que não tinha de levantar uma guerra que não tinha nenhum êxito. Além do mais a fundação só pode levar a cabo a sua função com o apoio dos municípios dos três concelhos, logo qualquer guerra com eles não valia a pena».

Sobre a alternativa apresentada por Carlos Sá Furtado, o presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Paiva, José Morgado, remete esclarecimento para o colega do município de Moimenta da Beira. O autarca de Vila Nova de Paiva defende, contudo, que a gestão partilhada entre as câmaras municipais não levantará quaisquer conflitos «porque todos temos interesse em que seja elevada a Fundação, o nome de Terras do Demo e de Aquilino Ribeiro. Estamos todos muito interligados».

Em Moimenta da Beira, o presidente José Eduardo Ferreira reforça esta ideia: «não tenho dúvida que o facto de poderem existir partidos políticos diferentes não impedirá de gerir a fundação de uma forma consensual». Questionado sobre a alternativa de gestão apresentada por Carlos Sá Furtado, o autarca de diz: «se o senhor Sá furtado diz isso não vou desmentir. Se não avançou foi porque as pessoas presentes na reunião entenderam que a melhor solução era aquela que teve votação unânime», ou seja a uma gestão da Fundação partilhada pelos municípios.

Após sucessivos contactos com o município de Sernancelhe, não foi possível falar com as entidades responsáveis.

Fundação guarda memórias e atrai visitantes
Aquilino Ribeiro escreveu mais de 70 obras de diferentes géneros, entre romances, ensaios e poesia. «A via Sinuosa», «Quando os lobos uivam» e «Terras do Demo» são alguns dos títulos do romancista português. Na Fundação Aquilino Ribeiro guarda-se a sua memória. É nesta casa que estão manuscritos, uma biblioteca com mais de oito mil títulos e outras recordações do autor. Recuperar a vitalidade desta casa de memórias é um dos objectivos da Câmara Municipal de Moimenta da Beira. «Pretendemos retomar a vitalidade da fundação. Não está muito em causa a degradação física do espaço, está em causa a revitalização da fundação e fazer com que ela desempenhe as funções para as quais foi constituída, ou seja colocá-la ao serviço da cultura, da região e do País», diz o presidente do município, José Eduardo Ferreira.

O autarca acrescenta: «a fundação tem de se tornar também um atractivo turístico. Mais do que elevar a imagem de Aquilino Ribeiro, estes concelhos têm o dever de explorar este manancial de cultura à volta do autor. Os três municípios poderão levar a cabo acções concertadas. Dou um exemplo: no dia 13 de Setembro, data de nascimento de Aquilino Ribeiro, vai haver em Moimenta da Beira uma conferência em torno do autor. Esta é uma iniciativa isolada do município de Moimenta. O que se pretende é que no futuro seja uma iniciativa da fundação». A importância da fundação para a valorização das Terras do Demo é também destacada por Carlos Sá Furtado. «A fundação tem muita importância e pode ter ainda mais porque Aquilino Ribeiro é figura ímpar no panorama literário português. Estas terras estão muito abandonadas, de maneira que um nome como o do escritor é uma mais-valia, podendo trazer muitas iniciativas e muita gente». Fonte: CaféPortugal.net

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