Quem fez as gravuras no sítio da Chã das Lameiras(1) e com que propósito?
Não dispondo ainda de uma ideia segura sobre o seu significado, a interpretação destas gravuras(2) (ver imagem I) deverá fazer-se, contudo, pela proximidade dos sítios arqueológicos da Orca Grande(3) (imagem II) e da Chã das Lameiras(4) , no quadro da paisagem megalítica do Planalto da Nave.
No meu entender, os diversos motivos (mais de uma dezena numa escala aproximada de 0,50 m, entre os quais distinguem-se dois em forma de S e duas cruzes) terão sido gravados provavelmente por comunidades de pastores e agricultores, entre o Vº e o Iº milénio antes de Cristo (entre o Neolítico e a Idade do Ferro), constituindo, a par das antas(5) (conhecidas localmente por orcas) e dos menires, os primeiros testemunhos da ocupação deste território, já que anteriormente a estas construções funerárias e simbólicas, o registo arqueológico concelhio é completamente inexistente.
Podendo deter aqui um significado complementar, os motivos representados, nesta superfície rochosa (granítica) ao ar livre, serão uma forma de comunicação pré-histórica (codificada), intrinsecamente ligada a aspectos da realidade quotidiana dos seus construtores, com propósitos territoriais (como sinal de identificação/reconhecimento/domesticação/ritualização/domínio territorial) e/ou religiosos/funerários (associados a um local de reunião, de culto e/ou de enterramento), “comungando”, talvez, segundo um acto cerimonial, do mesmo mundo de simbolismo perpetuado nas estátuas-menires de Alvite e de Peravelha.
Para chegar ao monumento deve seguir-se, a partir da povoação de Alvite ou das localidades de Carapito e Peravelha, pelo Circuito Pré-Histórico do Planalto da Nave. As gravuras ficam a poucos metros, do lado esquerdo do circuito, de frente para a Orca Grande. A circunstância de se tratar de uma zona de afloramentos graníticos impede uma melhor percepção do monumento, daí também a razão da sua imperturbabilidade.
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1. Relevo pouco acentuado, entre corgos subsidiários do rio Paiva, no Planalto da Nave, acima dos 900 metros de altitude. Freguesia de Peravelha.
2. Reveladas simpaticamente, assim como outros sítios de interesse neste concelho, pelo Sr. Guilherme Abreu, entusiasta das antiguidades de Moimenta, aquando da elaboração da Carta Arqueológica do Concelho de Moimenta da Beira.
3. Terá sido a grande sepultura colectiva das comunidades que frequentavam este planalto há cerca de 5 000 anos. Também conhecida por Orca das Lameiras.2. Reveladas simpaticamente, assim como outros sítios de interesse neste concelho, pelo Sr. Guilherme Abreu, entusiasta das antiguidades de Moimenta, aquando da elaboração da Carta Arqueológica do Concelho de Moimenta da Beira.
4. Sítio aberto, a Sul/Sudoeste da Orca Grande, da qual dista aproximadamente 300 metros, caracterizado por pequenos montículos à base de lajes e calhaus angulosos, onde foram recolhidos seixos e fragmentos cerâmicos, alguns dos quais decorados (Bibliografia: CRUZ, D. J. (2001) – O Alto Paiva: Megalitismo, Diversidade Tumular e Práticas Rituais durante a Pré-História Recente, 2 Vols. Coimbra).
5. Fonte do Rato, Bebedouro, Seixas, Carquejas, Quinta dos Caetanos, etc.
Autor: José Carlos Santos
Publicado na 59.ª edição do Jornal Beirão
1 comentário:
Identifiquei na área da Chã das Lameiras várias destas inscrições. São históricas e relacionam-se com a fixação dos limites dos antigos concelhos (e freguesias). Há documentação escrita que se refere a estas delimitações, e, por vezes, aos litígios entre povos. Não publiquei todas estas inscrições, mas relativamente a umas, existentes em afloramentos próximos da orca dos Cartaixos, digo o seguinte: "a cerca de 150 m para E.NE. da orca observa-se a primeira inscrição, de um grupo de três, delimitatória dos antigos concelhos de Carapito, Peravelha e Ariz (distanciam-se c. de 40 m e 200 m para NE. da primeira, todas executadas em 1883)." (Cruz, 2001, p. 356). Há outras em torno da Chã das Lameiras.
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