Há vários anos que em Vila Nova de Paiva se reclama por causa de descargas que são feitas no rio Paiva e que deixam as águas “cor de barro”. Rio este que já chegou a ser considerado o mais limpo da Europa.
As queixas têm sido apresentadas junto de algumas entidades competentes, como o Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente (SEPNA) de Moimenta da Beira, mas quem as faz diz que “não dão em nada”.
A mais recente denúncia foi feita “há cerca de duas semanas” pelo presidente do Clube Desportivo de Caça e Pesca de Vila Nova de Paiva, Vítor Afonso. “Já foram apresentadas várias queixas. Só eu já diz duas, uma em maio do ano passado, com outro membro da direção [do clube] e este ano fiz outra, há cerca de 15 dias. E aí não foi uma descarga, foram pelo menos duas. Um dia o rio já estava a limpar, no dia a seguir já estava a água toda barrenta”, conta.
Vítor Afonso diz que “quase todos os dias” passa junto à Ponte de Ariz, uma das zonas afetadas pelas descargas, e que, por isso, vai “tendo noção do que está a acontecer”.
“Não consigo precisar, mas há mais de três ou quatro anos que são recorrentes as descargas no rio Paiva, isto acontece periodicamente, quinze em quinze dias, três em três semanas. A água fica completamente turva, cor de barro”, detalha.
Vítor Afonso explica ainda que as descargas costumam acontecer, sobretudo, em dias de chuva e que as águas contaminadas chegam a percorre vários quilómetros. “É possível ver o rio assim em Segões e até já em Fráguas, na praia fluvial”, assegura.
Apesar das queixas, descargas continuam
As descargas no rio Paiva, que afetam o concelho de Vila Nova de Paiva, não são uma novidade, mas apesar das sucessivas queixas o problema parece ainda não ter sido resolvido.
“Não sei o que se tem passado, parece que fazer queixa ou não vai dar ao mesmo. Fiz as queixas junto do SEPNA de Moimenta da Beira, dizem que vão ver e não duvido que façam o trabalho deles, mas que não tem dado resultados isso não tem. Até podem ter reduzido o número de descargas mas elas continuam a existir”, garante.
Outra das denúncias apresentadas recentemente foi feita pela União das Freguesia de Vila Nova de Paiva, Alhais e Fráguas. O presidente, Alberto Afonso, garante que já foram feitas “várias queixas junto das entidades competentes, nomeadamente dos responsáveis pelo ambiente, mas não se sai do mesmo”.
“No dia de natal cheguei a deixar os convidados em casa a almoçar e fui para lá tirar fotografias e tentar perceber de onde é que vinha aquela água poluída”, conta o autarca que assumiu funções em setembro do último ano.
“Fazemos queixa e pelo que nos dizem são multados, mas não sei o resto, se pagam as multas, se quê”, conta Alberto Afonso, questionado sobre o resultado das denúncias.
Os focos de contaminação serão pedreiras localizadas no concelho vizinho de Moimenta da Beira. “Não é só uma pedreira, é mais do que uma. Já estivemos a ver e não é a mesma pedreira a fazer as descargas”, assegura o autarca.
Estações de tratamento ou uso de lameiros como soluções?
Para Alberto Afonso, poderiam e deveriam ser arranjadas soluções para o problema das descargas poluentes no rio Paiva e que “as entidades competentes deveriam fiscalizar mais”.
“A solução era que as pedreiras tivessem estações de tratamento para a água, mas acredito, e compreendo, que não seja uma coisa que se faz a curto prazo”, diz. Contudo, o autarca explica que “há outras formas de tentar purificar a água no imediato”.
“Não podem por a água a correr diretamente para o rio como está a acontecer, a água fica com uma cor muito estranha e imagino que isto destrua muita coisa. Há vários lameiros a jusante das pedreiras que podiam limar essa água, a água passava por esses lameiros, era filtrada e chegava praticamente limpa ao rio, e penso que no imediato era uma boa opção, mas os responsáveis é que têm que ver isso”, sublinha.
Descargas podem prejudicar saúde pública
Alberto Afonso diz que já chegou a recolher água para mandou analisar, mas que ainda não teve resultados, não podem por isso afirmar que a saúde pública esteja em casa. Contudo, não tem dúvidas de que a qualidade desta águas não será boa e "alguma coisa irá afetar".
A mesma opinião tem Vítor Afonso. "Não tenho provas cientificas, mas isto é poluição do rio. Estamos, por exemplo, a ter um problema nos amieiros, que estão a secar, de onde virá? Será disto? Não sabemos, mas os amieiros são uma das espécies que mais sentem com a poluição e se não tínhamos secas e agora nos últimos anos temos, alguma coisa tem que estar a acontecer. E aos peixes, bem também não lhes faz. E mais grave do que isso, é que a maior parte da água para consumo de grande parte do concelho de Vila Nova de Paiva sai da Quinta da Azenha, desse troço do rio, e isso é ainda mais grave", concluiu.
O Jornal do Centro também tentou ouvir a Câmara Municipal de Moimenta da Beira, mas sem sucesso e aguarda ainda uma resposta da GNR e da Administração da Região Hidrográfica do Norte, da Agência Portuguesa do Ambiente.
Fonte: Jornal do Centro