Numa diversidade de exemplos (tanto de formas arquitectónicas[1], como de estados de conservação[2]), marcadamente do estilo barroco, as casas solarengas edificadas no concelho moimentense, entre meados do século XVII e finais do século XIX, assinalam-se como ambientes de autêntico luxo no quadro da paisagem construtiva.
Estas exuberantes casas reportam-nos para as vivências de grupos sociais circunscritos (membros da nobreza, aristocratas, burgueses, figuras notáveis…), aqui influentes, num período de apogeu económico bem visível: quer no embelezamento do exterior, particularmente na sumptuosidade das fachadas (ver imagem I), no cuidado conferido às pedras de armas dos proprietários (imagem II), no emolduramento das cornijas, no aparato dos alpendres, das escadarias e das varandas (frequentemente protegidas por balaústres de granito intercalados por pilares), na disposição simétrica das portas e das janelas, nos trabalhos forjados em ferro... quer no requinte dos interiores, nomeadamente nos estuques, nas madeiras entalhadas, nos pequenos oratórios, nos vitrais, nas ferragens, nas tapeçarias, no mobiliário, nas pinturas, na ourivesaria, nas cerâmicas, na azulejaria… quer em todo o conjunto arquitectónico, constituindo, algumas delas, cenográficas quintas[3], cercadas por altos muros de pedra, com diversas estruturas rurais (como azenhas, lagares, moinhos de água, espigueiros, pombais, etc.), magníficas capelas e jardins luxuriantes, onde se articulam harmoniosamente variadas espécies botânicas, inclusive centenárias, com fontes, lagos, esculturas e revestimentos azulejares.
[1] Algumas são o resultado de várias alterações, de modo, a albergar as gerações que aí viveram.
[2] Encontramo-las, nalguns casos, já sem os brasões, como acontece no Arcozelo do Cabo (um dos povos do concelho moimentense que possuiu mais casas nobres) e outras visivelmente em profundo estado de degradação, como as casas dos Viscondes de Balsemão e dos Lucenas-Mergulhões, em Leomil.
As que se apresentam em bom estado deve-se, em parte, ao facto de ainda serem habitadas pelas famílias descendentes. Ou, por outro lado, foram airosamente recuperadas para diversos fins. Vejam-se os exemplos do solar dos Correia Alves, antigo solar dos Almeidas, recuperado para Turismo de Habitação, ou das antigas casas dos Carvalhais e dos Guedes, onde hoje se encontram instaladas respectivamente a Câmara e a Biblioteca deste município.
[3] Como a casa da Quinta (Castelo), a Quinta do Convento (Moimenta da Beira), a casa de Paradinha (Paradinha), o solar de São Domingos (Sarzedo), a Quinta da Boavista ou a vivenda do Prado (Rua).
Publicado no Jornal Beirão (63.ª edição)
Autor: José Carlos Santos
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