domingo, 8 de fevereiro de 2009

«Crónica-História» - "História da nossa terra!"

A desaparecida capela de S. Plácido

O facto histórico que se apresenta neste esparso, não é ainda do conhecimento do vulgo. Um dos que mais chamou à atenção para a necessidade de se procederem a investigações no sentido de se recuperar mais este fragmento da História desta vila foi Monsenhor Bento da Guia. Não é possível proceder à identificação de todas as pedras desta desaparecida capela, como fez o padre Bento em relação ao pelourinho de Moimenta. Porém, aqui fica apenas a rememoração de mais um monumento que existiu na vila, que atesta não apenas ecos da religiosidade da altura, como também a vitalidade e riqueza monumental de Moimenta da Beira.
Não se sabe exactamente onde se localizava a capela de S. Plácido. Sabemos que existia na casa de Caetano Alexandre da Fonseca Pinto e Albuquerque que deveria ficar situada no espaço envolvente à Fonte da mesma invocação, de S. Plácido, que o mesmo mandou construir. Olhando hoje para esta fonte e espaço envolvente, poder-se-á pensar que o mesmo se destinava a usufruto das freiras do convento beneditino de N. Sra. da Purificação. Nada mais falso, pois a cerca do convento não chegava até aí! As freiras de Moimenta eram freiras de clausura e o espaço que calcorreavam era apenas o da cerca com os seus claustros, também desaparecidos. Todos os terrenos que hoje vemos por detrás do mosteiro, pertencentes à família dos Sarmentos, não eram no passado pertença de um mesmo proprietário. Por conseguinte, resultaram da junção de três propriedades diferentes, as casas e a cerca do Convento, a casa da propriedade do Conde Taverede e a Tapada que foi do Conde de Lobata.
Por conseguinte, a fonte de S. Plácido e capela da mesma invocação, eram pertença da casa de Caetano Albuquerque, capitão-mor de Trancoso que laborava em Moimenta, onde casou com D. Maria José de Araújo Meneses, e fidalgo da casa real. Para que qualquer indivíduo pudesse ter capela privada era necessária uma licença episcopal, o que Caetano conseguira obter com facilidade, pois o bispo de Lamego, D. Manuel de Vasconcelos Pereira, era seu tio. Foi o próprio D. Manuel que se encarregou de mandar vir de Roma o corpo do mártir para figurar na capela do seu sobrinho. Uma vez que faleceu no ano da vinda da imagem, em 1786, altura em que já se construía uma capela magnífica para albergar, foi Caetano Albuquerque quem a recebeu e manteve no seu oratório doméstico, onde era visitada pelo povo da região em virtude da fama que tinha de produzir milagres. Quem no-lo confirma é D. Joaquim de Azevedo, na sua História Eclesiástica do Bispado de Lamego. Poderemos conferir credibilidade às palavras deste autor? Sem dúvida. Lembre-se que o referido D. Manuel, bispo de Lamego entre 1773 e 1786, natural de Castro Daire, que mandou vir a imagem de Roma para a capela do seu sobrinho, foi quem proveu o Pe. Joaquim de Azevedo como reitor de Várzeas de Trovões e posteriormente abade de Cedovim e arcipreste de um dos distritos eclesiásticos de Entre Côa e Távora. O seu testemunho é, por isso, a tradução do seu conhecimento real experienciado.
Já depois de erigida a capela de S. Plácido, aí foi baptizada a filha dos proprietários, em 2 de Setembro de 1791. Teve pouco tempo de vida esta capela. Alvo das invasões francesas, foi totalmente destruída em 1808, na sucessão do que aconteceu com outros monumentos da vila e actual concelho de Moimenta da Beira. Dela restam duas colunas que sustentam um alpendre atrás do convento e outras pedras talhadas que figuram por ali não apenas nos muros da fonte da pipa, como noutros. Diz-se mesmo que há largos anos atrás os miúdos que brincavam no terreiro das freiras sabiam bem identificar a “porta capela e o cu da Canoa”, mulher anã que vivia junto à capela de Nossa Senhora do Amparo.

Autor:
Jaime Ricardo Gouveia

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