quinta-feira, 15 de maio de 2014

«Rotas e Lugares» - “Castelo do Magriço”



Castelo e, em plano próximo, outro notável monumento: o pelourinho
Implantado numa proeminência rochosa, a cerca de 920 metros de altitude,
oferece uma vista espantosa sobre a região.

É outro tesouro beirão. Certamente ainda não com este aspeto, o Castelo de Penedono é referido no século X, durante o repovoamento da acidentada zona levantina da Beira Alta, missão conseguida pelo alcaide Rodrigo Tedoniz. Senhor dos castelos que fortificavam esta vasta região, Rodrigo deixou-os, por conseguinte, em testamento a sua filha Flâmula, e esta, mais tarde, ficando doente, acolheu-se no mosteiro de Guimarães, fundado pela sua tia Mumadona Dias, doando-lhe através de um documento (datado de 960) todas as suas povoações, terras e castelos (inclusive o de Penedono) para fins de beneficência desta.
Em 1064 foi reconquistado por Fernando Magno (Rei de Leão) e, como muitos outros, foi agraciado com privilégios por alguns dos monarcas portugueses. Ante a situação estratégica da povoação, D. Sancho I mandou reconstruir as suas defesas e incentivou o repovoamento dessas terras através de Foral (1195), confirmado em 1217 por D. Afonso II, seu sucessor. Nos finais do século XIII, D. Dinis reforçou-o ainda mais.
Quando D. Fernando incluiu a povoação de Penedono no termo de Trancoso, chegou mesmo a ser proposta a sua demolição, sendo, entretanto, salvo por um grupo de cidadãos a que chamaram «Homens Bons».
A vila foi então doada a D. Vasco Fernandes Coutinho (de elevada estirpe, também senhor do Couto de Leomil) que o reconstruiu e fez dele a residência da sua família até finais do século XV. Ainda não totalmente com a configuração atual, terá nascido aqui D. Álvaro Gonçalves Coutinho, imortalizado por Luís de Camões no Canto VI de Os Lusíadas, com a alcunha de “o Magriço” – em que descreve a sua legendária participação como os Doze de Inglaterra, doze cavaleiros portugueses que partiram para Inglaterra para, em torneio, defrontar outros tantos ingleses que haviam desonrado doze damas da corte dos Lancaster – daí esta fortaleza ser também conhecida como o “Castelo do Magriço”, podendo dizer-se também que é aqui que encontramos o modelo perfeito da mentalidade cavaleiresca medieval.
Sob o reinado de D. Manuel I (1495-1521), a vila recebeu o Foral Novo, o que atesta a sua importância à época, e foram realizadas novas obras no castelo. No século XIX é visitado por Alexandre Herculano que o descreve já em ruínas. Todavia, logrando a classificação de Monumento Nacional em 1910, beneficiou, sob a responsabilidade da Direção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, de trabalhos de consolidação e restauro e em 1955 foi-lhe estabelecida Zona Especial de Proteção, o que contribuiu para que o conjunto chegasse aos nossos dias em relativo estado de genuinidade.
Não precisa de ser grande para ser magnífico. Basta-lhe apenas manter a verticalidade. A planta é poligonal circundada por barbacã, o muro (em arquitetura militar) anteposto às muralhas, de menor altura do que estas com a função de defesa do fosso, onde se assinalava a primeira resistência ao agressor. A fachada principal está voltada a Ocidente, com portal de lintel reto e arco apontado entre duas esguias torres quadrangulares coroadas por ameias prismáticas, ligadas por passadiço superior que defende a entrada. Em volta do perímetro muralhado possui cinco torres de ângulo encimadas por balcões munidos de matacães. No interior, não há muito para ver. É apenas uma ruína do paço senhorial que aqui existiu, talvez de três pisos. Ainda são visíveis as escadas de acesso ao adarve que circuita o perímetro do castelo, dele subindo estreitos degraus até aos eirados dos torreões. Sob a torre principal conserva-se a cisterna, reservatório de águas pluviais (podendo também ser abastecida com o degelo de neve) indispensável para consumo e irrigação.
Autor: José Santos

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