terça-feira, 19 de outubro de 2021

«Desporto» - A história de Kiko começou contra uma parede e continua na I Liga

Foi um dos jogadores mais influentes na campanha do Vizela rumo à I Liga e há expetativa de assistir à explosão de Kiko Bondoso, um extremo sem tiques de estrela, mas com pés de craque.

Ambidestro, explora a dúvida que cria nos adversários em seu proveito e revela, em entrevista à Renascença, que tudo começou por influência do pai: "Ele punha-me a jogar contra uma parede, com pé direito e esquerdo. É uma mais-valia, porque um defesa quando apanha um extremo que tanto pode vir para dentro, como ir para fora, fica sempre na dúvida".

Mas não foi apenas contra uma parede que Kiko Bondoso lutou. Também teve de escalar outra, bem íngreme, até chegar à I Liga. Natural de Moimenta da Beira, foi no clube da terra que se formou e iniciou carreira. Cedo se apercebeu que tinha talento suficiente para jogar para lá do distrital, mas sem portas franqueadas teve de aguardar pelo momento certo.

"Houve uma altura, acabada a formação e começando os seniores, em que o meu objetivo era apostar tudo no futebol. Mas houve um momento, em que as coisas demoraram a aparecer, e em que comecei a trabalhar. Conciliei trabalho com futebol", até surgir o convite do Vizela. "A partir daí a aposta no futebol passou a ser permanente", afirma.

Kiko esteve quatro épocas no Moimenta, passou pelo Ferreira de Aves, pelo Lusitano Vildemoinhos e, aos 23 anos, foi contratado pelo Vizela, saindo, pela primeira vez do distrito de Viseu, ainda para jogar no Campeonato de Portugal.

Foi apenas aos 25 anos que apareceu na I Liga - esta época - e chega sem pressão adicional, tendo presente as expetativas nele depositadas. Kiko há bem pouco tempo estava no distrital, agora acorda para treinar na liga principal: "Encaro isto como uma oportunidade. Para um jogador que vem do distrital, do CNS e chega à I Liga é aqui que quero estar"


Retribuir ao Vizela

Com contrato até 2024 com o Vizela, Kiko Bondoso, tal como acontecia no Campeonato de Portugal e na II Liga, continua a ser aposta firme de Álvaro Pacheco. Os desempenhos não passam despercebidos, as propostas já chegaram, mas o jogador diz ter uma dívida com o clube e não equacionou, sequer, deixar Vizela depois da boa época no segundo escalão.

"Apareceram algumas coisas, não vou esconder, mas o meu objetivo era jogar na I Liga. Estou aqui muito bem. O Vizela tem todas as condições para crescer. Estou feliz aqui e não estou a pensar noutra coisa. Eles ajudaram-me, por isso, tenho de retribuir o favor".

Longe de casa, Kiko encontrou uma família em Vizela e o jogador explica que esse espírito foi a fundação do percurso da equipa nos últimos anos, com duas subidas consecutivas e aterragem na I Liga, 36 anos depois.

"O nosso espírito e a união foi o que nos fez subir à I Liga. No momento em que subimos a maior parte de nós nem palavras tinha para descrever o sentimento. Foi uma sensação de dever cumprido e concretização do sonho de qualquer miúdo de jogar na I Liga", recorda.

O tempo de festejos, no entanto, já está guardado e o plantel, em que continuam vários nomes que iniciaram a caminhada no Campeonato de Portugal, depois de chegar ao topo, tem agora o objetivo de se manter por lá.


Boa resposta do Vizela ao desafio da I Liga

Os primeiros sinais, avalia Kiko, são positivos: "A equipa tem respondido muito bem. Podíamos até estar melhor, mas o sentimento é muito bom. Falta melhorar algumas coisas, mas vê-se muito gente a falar do Vizela e da sua qualidade de jogo. Temos tudo para melhorar".

Os minhotos estão no 12.º lugar do campeonato, com oito pontos, em oito jogos, três pontos acima da lugar de "play-off" de manutenção. Eliminados da Taça da Liga, asseguraram presença na 4.ª eliminatória da Taça de Portugal.

Kiko considera que o Vizela tem convencido os adeptos pelo futebol que pratica, que coloca num patamar elevado, ao nível dos melhores, como os três grandes e em que também destaca o Estoril, equipa, tal como o Vizela, recém-promovida à I Liga.

Determinante no sucesso da equipa tem sido, igualmente, o treinador. Sobre Álvaro Pacheco, Kiko Bondoso reserva um descrição de entusiasmo, equivalente àquele que o técnico lhes transmite: "O ele que passa cá para fora, o entusiasmo dele, no balneário é ainda maior. A maneira como ele quer arriscar".

O Vizela aposta no risco de vencer jogos e conta, ainda, com o apoio significativo. Depois de uma época sem adeptos na bancada e de um início de aventura na I Liga longe de casa, em Paços de Ferreira, fruto das obras de melhoramento no seu estádio, a equipa voltou a casa e o conforto conferido pelos adeptos "é muito importante". "Ainda não último jogo em casa, com o Santa Clara, foram determinantes para conseguirmos o empate no último minuto", lembra, a título de exemplo.

A fazer o seu caminho, Kiko Bondoso, que há seis anos era campeão do Distrital de Viseu, pelo Moimenta da Beira, tem o direito a sonhar. A seleção nacional é um objetivo intangível neste momento, mas Kiko tem "a ideia de um dia poder surgir essa oportunidade". "Hoje é aqui e, quem sabe, uma oportunidade não pode surgir", candidata-se.

Kiko Bondoso, de 25 anos, cumpre a terceira época no Vizela. O extremo, que tanto pode atuar nos dois flancos, tem 68 jogos realizados pelo clube minhoto e 16 golos marcados.

Fonte: RR.pt

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