segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Praça Pública - Semanal

Imaginem....Mário Crespo

Imaginem que todos os gestores públicos das setenta e sete empresas do Estado decidiam voluntariamente baixar os seus vencimentos e prémios em dez por cento. Imaginem que decidiam fazer isso independentemente dos resultados. Se os resultados fossem bons as reduções contribuíam para a produtividade. Se fossem maus ajudavam em muito na recuperação.

Imaginem que os gestores públicos optavam por carros dez por cento mais baratos e que reduziam as suas dotações de combustível em dez por cento.

Imaginem que as suas despesas de representação diminuíam dez por cento também. Que retiravam dez por cento ao que debitam regularmente nos cartões de crédito das empresas. Imaginem ainda que os carros pagos pelo Estado para funções do Estado tinham ESTADO escrito na porta. Imaginem que só eram usados em funções do Estado.

Imaginem que dispensavam dez por cento dos assessores e consultores e passavam a utilizar a prata da casa para o serviço público. Imaginem que gastavam dez por cento menos em pacotes de rescisão para quem trabalha e não se quer reformar. Imaginem que os gestores públicos do passado, que são os pensionistas milionários do presente, se inspiravam nisto e aceitavam uma redução de dez por cento nas suas pensões. Em todas as suas pensões. Eles acumulam várias. Não era nada de muito dramático. Ainda ficavam, todos, muito acima dos mil contos por mês.

Imaginem que o faziam, por ética ou por vergonha. Imaginem que o faziam por consciência. Imaginem o efeito que isto teria no défice das contas públicas. Imaginem os postos de trabalho que se mantinham e os que se criavam. Imaginem os lugares a aumentar nas faculdades, nas escolas, nas creches e nos lares. Imaginem este dinheiro a ser usado em tribunais para reduzir dez por cento o tempo de espera por uma sentença. Ou no posto de saúde para esperarmos menos dez por cento do tempo por uma consulta ou por uma operação às cataratas.

Imaginem remédios dez por cento mais baratos. Imaginem dentistas incluídos no serviço nacional de saúde. Imaginem a segurança que os municípios podiam comprar com esses dinheiros. Imaginem uma Polícia dez por cento mais bem paga, dez por cento mais bem equipada e mais motivada. Imaginem as pensões que se podiam actualizar. Imaginem todo esse dinheiro bem gerido. Imaginem IRC, IRS e IVA a descerem dez por cento também e a economia a soltar-se à velocidade de mais dez por cento em fábricas, lojas, ateliers, teatros, cinemas, estúdios, cafés, restaurantes e jardins.

Imaginem que o inédito acto de gestão de Fernando Pinto, da TAP, de baixar dez por cento as remunerações do seu Conselho de Administração nesta altura de crise na TAP, no país e no Mundo é seguido pelas outras setenta e sete empresas públicas em Portugal. Imaginem que a histórica decisão de Fernando Pinto de reduzir em dez por cento os prémios de gestão, independentemente dos resultados serem bons ou maus, é seguida pelas outras empresas públicas.

Imaginem que é seguida por aquelas que distribuem prémios quando dão prejuízo.

Imaginem que país podíamos ser se o fizéssemos.

Imaginem que país seremos se não o fizermos.

Comentário: – Prefiro não imaginar! Acordar a seguir seria um pesadelo! (Fonte:JN)

Comentem..."Imaginem"!!!

11 comentários:

Anónimo disse...

Já alguém perguntou quanto ganham os jornalistas no canal público?
Não foi o José Eduardo dos Santos que teve um diferimento com o antigo administrador da RTP também por causa do salário astronómico?
Comentar pode-se comentar mas olhemos para o nosso umbigo?

Anónimo disse...

Concordo em grande parte com o comentário do M. Crespo. Já agora, colocar todos os ordenados da FP abaixo do Presidente da República, acho que é isso que está previsto na teoria mas na prática tenho algumas dúvidas, principalmente nos cargos políticos.
Toda a malta que se dedica à coisa pública através da política e desenvolver a sua prática com um verdadeiro espírito de "missão", deveria ser remunerado ao nível daquilo que ganha na sua profissão de origem. Se fosse assim, então este País reduzia grandemente a sua despesa e seria uma verdadeira Democracia.

João PM Dias disse...

Boa tarde,

Em primeiro lugar, gostaria de agradecer a quem tem comentado os "posts" de uma maneira saudável.
Em segundo, gostaria de lembrar que o blogue moimentananet está aberto a todo o tipo de sugestões -blogmoimentananet@gmail.com !!

Em relação a este post, concordo em parte com o que foi dito pelo anónimo e pelo jcg.

"deveria ser remunerado ao nível daquilo que ganha na sua profissão de origem."

Penso que este ponto é fundamental!
A existência de limites em relação aos ordenados (a todos os níveis) seria um ponto fulcral para o equilibrio social e económico do país! Mas como está bem explicito no artigo, IMAGINAR é muito fácil!

abraço,
joaomd

Anónimo disse...

Efectivamente, as vantagens que isto traria são consensuais. Mas estes problemas não são tão lineares quanto isso. Nomeadamente, e pegando num comentário, uma pequena questão conceptual revela (ou como lhe queiram chamar), a meu ver, um dos problemas estruturais deste país - A coisa pública. De facto, a "coisa" deveria ser "causa". (Não, não estou a fazer uma correcção ortográfica ou conceptual.) Apenas quero dizer que se quem se dedica a servir o Estado (trabalhando nele), especialmente a parte executiva, realmente sentisse a sua missão como uma verdadeira Causa, neste momento não estaríamos preocupados e a ter esta discussão.
É uma questão cultural que teima em não desaparecer.

Sérgio Matos Dias

Anónimo disse...

P.S. Apenas em relação ao comentário dos jornalistas da RTP em comparação aos de estações privadas: não concordo que os privados devam ter tectos salariais impostos pelo Estado, por comparação ou não com os salários auferidos pelos funcionários do Estado. Vivemos numa economia de mercado onde (supostamente) existe justiça social e que "depende", em parte, de proveitos vindos dessa mesma "liberdade" consignada ao sector privado.

Sérgio Matos Dias

Anónimo disse...

José Samarago aquando da apresentação de um filme baseado no seu livro "Ensaio sobre a Cegueira" tem uma frase estupenda:"se Marx fosse vivo estaria a rir-se".

formatted error free disse...

imagina, mario crespo, q te cortavam 10% no ordenado q ganhas por fazer o teu trabalho. imagina agora que os 10% do teu salario iam para um preguiçoso qualquer, que n trabalha pq n qer, e vive a mama do rendimento de reinserçao social e de pagamentos por fora de negocios a margem da lei..

se calhar nao ias gostar, pois não?

Anónimo disse...

Olá
... parece fácil, e óbvio... mas o poder cega!
... esta crise era de prever... só de pensar que as grandes fortunas estão a perder zeros, ainda que a boa vida continue o sono descansado não será o mesmo... só por isso já vale a pena eles terem tb a sua própria crizezinha... é bom habituarem-se... o futuro parece promissor!

Anónimo disse...

Apesar de ser um tipo espirituoso... não consigo ter assim tanta imaginação...
Os portugueses têm a classe política que merecem...

Anónimo disse...

É mesmo UTOPIA ;)
Era um milagre daqueles que caíam todos os SANTOS DO ALTAR!!!
Bjs

Anónimo disse...

O Mário Crespo é um senhor! Há quem malevolamente diga que pratica o shownarlismo quando ataca as
suas vacas sagradas mas é o mais sensato e honesto jornalista de todos os média e também o melhor . É um prazer ouvi-lo, a maneira informal mas profissional de entrevistar que usa é algo único em Portugal.

Até breve