domingo, 11 de janeiro de 2009

«Crónica-História» - "História da nossa terra!"

D. Fernando Coutinho, um bispo das Terras do Demo

No lindíssimo e bem reconstruído castelo de Silves, sede da antiga diocese do Algarve até 1564, descobri, ecos da memória de uma figura importante do nosso concelho, D. Fernando Coutinho. Recuemos então tempo 500 anos no tempo, época áurea dos descobrimentos marítimos portugueses, tempo do desbravar do mundo e de uma nova “razão”, para falar de D. Fernando Meneses Coutinho e Vasconcelos.
Por alturas do reinado de D. Manuel I, o “venturoso” de cognome, D. Fernando Coutinho, seu grande amigo e conselheiro pessoal, foi bispo de Silves a partir de 24 de Janeiro de 1502 até 1536, acumulou a diocese de Lamego a partir de 26 de Agosto de 1513 até 24 de Setembro de 1540 e foi posteriormente arcebispo de Lisboa entre 1540 e 1564. Acumulou ainda enquanto prelado de Lamego a função de regedor da Casa da Suplicação em Lisboa. Era uma personalidade extremamente influente na coroa em sucessivos reinados, tendo baptizado os filhos de D. João III e D. Catarina e casado o príncipe D. João com D. Joana de Áustria em 1552. Prova disso mesmo foi o facto de ter exercido também o cargo de capelão-mor (1513), reitor da Universidade (1528) e deputado da Mesa da Consciência e Ordens (1532). Acresce a isto o facto de ter feito parte do conselho restrito do rei logo em 1528.
A prática da caça e as actividades mundanas eram usuais nesta época. D. Fernando Coutinho tinha uma grande tapada de caça junto a Sagres que doou ao Rei D. Manuel I, quando este foi ao Algarve, pela qual recebeu como gratificação a Igreja de Santa Maria do Cabo que, desde então, se passou a chamar Aldeia do Bispo e mais tarde Vila do Bispo, povoação imediatamente antes de Sagres que ainda hoje existe. Diz-se que este prelado foi um dos mais luxuriosos da época, a julgar pelo extenso rol de queixas que dele fizeram ao Rei os cónegos da catedral de Silves pelo ano de 1525, os quais afiançavam que “era mais mercador e tratante com navios que prelado” e “mandava matar e dar cotiladas pellos rostos e muytas pessoas e fazia muytas sisanias a outras muytas pessoas de que naciam muytas discórdias.” Este documento da Torre do Tombo necessita porém de alguma reserva na sua análise, por regista apenas a versão dos cónegos. Sabe-se, por exemplo, que os cónegos queixosos andavam em disputa com D. Fernando Coutinho pois não correspondiam à obrigatoriedade tridentina de residirem na diocese de Silves, desculpando-se com o calor e as doenças provocadas pelos lodos do rio, assoreado.
O certo é que a D. Fernando Coutinho se atribuem muitos empreendimentos no Algarve, tal como a fundação de um convento de Franciscanos no Cabo de S. Vicente e nesse mesmo local a edificação de uma torre com lanterna para servir de farol, a fundação de um castelo em Ferragudo e ainda a fundação, nos arredores de Silves, do convento que depois ficou conhecido como do Paraíso. É-lhe reconhecida ainda a tentativa que efectuou junto de D. Manuel para que se não procedesse à conversão forçada dos judeus e mouros, defendendo a necessidade do sacramento.
Apesar da condição de bispo, D. Fernando Coutinho teve vários filhos de diversas mulheres, seis pelo menos, entre eles uma filha, gerada antes da sua entrada na vida religiosa. D. Isabel da Silva Coutinho se chamava. Casou com o primo Rui Pereira da Silva, senhor da Alcaidaria de Silves. Outro desses filhos foi D. João de Meneses que veio a ser arcebispo de Braga ainda em 1581.

Autor: Jaime Ricardo Gouveia

1 comentário:

João PM Dias disse...

Interessante.

É sempre bom termos uma noção da história das nossas "gentes".

abraço,
joaomd