segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Praça Pública - Semanal

Que futuro, depois das eleições? «José Leite Pereira»

Nalguns sectores afectos ao PSD vai crescendo a ideia de que Manuela Ferreira Leite não deveria apresentar-se nas eleições como candidata a primeira-ministra. Deveria disputar as eleições como líder do partido, mas tendo a seu lado alguém mais jovem que o partido indicaria para chefiar o Governo.

Independentemente de quem seria o "outro", embora seja claro que, no momento actual, dificilmente poderia deixar de ser Passos Coelho, a proposta não é mais do que um acto desesperado condenado ao fracasso. Por um lado, uma coisa destas significaria uma enorme humilhação de Ferreira Leite, coisa que a própria só aceitaria se tiver perdido - o que não é provável - o último pingo de dignidade. Além disso, o "jovem" ficaria imediatamente queimado, pois não faltaria quem dissesse que não pode ser chefe do Governo quem não tem competência para liderar o próprio partido ou que não pode chegar-se a chefe do Governo pela mão de alguém que não consegue pôr ordem no seu partido.

O PSD precisa de mais do que isto. Possivelmente, a regeneração por que terão de passar os sociais- democratas não cabe no curto período que nos separa das eleições. É o mais certo. E depois do desastre eleitoral, mais do que provável, quase certo também, é preciso garantir que o PSD saiba perder e saiba sair da crise. Da última vez não soube. E isso não é importante apenas para o PSD. O espectro político português tem um buraco no centro-direita que o CDS-PP não é capaz de preencher e que o PS não pode cobrir na totalidade. A consequência disso tem-se visto: o PS foi encostando à direita e deixou ao PCP e ao BE muito espaço ao centro-esquerda para eles preencherem. A crise económica tem feito o resto: o PCP sempre congrega, entre nós, uma faixa jovem do eleitorado e outra mais larga do operariado; o Bloco consegue que a crise disfarce óbvias divisões internas e permite que o discurso de Louçã e Fazenda escondam raízes trotskistas e estalinistas que nem no auge da revolução conseguiram congregar eleitorado. Se nas próximas eleições esse eleitorado crescer como as sondagens prometem nada de muito saudável acontecerá ao nosso regime democrático, pois o que resta do PSD e o CDS não estão em condições nem de dar força nem de credibilizar qualquer Governo.

Do lado do Governo temos um primeiro-ministro fragilizado por dúvidas constante e habilmente lançadas para a praça pública. Um primeiro-ministro que parece continuar a preferir a arrogância a uma atitude mais incómoda, é certo, mas mais construtiva, de tudo explicar e abrir sobre si próprio sempre que é questionado. Um PS que parece só existir à medida do Governo que serve, não se constituindo nem como sua reserva e reforço moral, nem alimentando saudavelmente alternativas internas credíveis. Um partido que, estando no Governo, não consegue ser congregador de todos os seus.

Possivelmente, o PS ganhará as eleições. Na verdade, mais ninguém parece poder ganhá-las. Mas uma vitória por ausência da direita e com a extrema-esquerda em ascensão rápida não é garante de nenhuma estabilidade. (Fonte: JN)

2 comentários:

Filho da terra disse...

É certo que tudo isto é verdade.Mas será que nos merecemos?

João PM Dias disse...

Pois...

abraço,
joaomd