domingo, 14 de junho de 2009

«Crónica-Arqueologia» - Todos os caminhos vão dar a Roma…

Uma das mais espantosas realizações do poder imperial de Roma foi, sem dúvida, a gigantesca rede viária composta por vias principais e secundárias frequentemente pontuadas pelos chamados marcos miliários (a principal evidência da passagem de uma via romana).
Estas estradas foram construídas por diversas entidades (pelo poder central e pelas próprias populações no seu interesse), com objectivos militares (facilitavam a deslocação dos exércitos/legiões), sócio-económicos (permitiam a circulação de simples civis, de produtos e dinamizavam o comércio), políticos e administrativos (favoreciam a aproximação entre as várias regiões e províncias do Império) e culturais (permitiam a divulgação de diferentes ideias, novos costumes e uma nova língua – o latim) que contribuíram fortemente para a difusão do estilo de vida romano.
Do ponto de vista construtivo, este sistema viário revela-nos vastos conhecimentos na área da engenharia.
Em primeiro lugar, determinavam o alinhamento da estrada e depois começavam a escavar uma vala com cerca de um metro de profundidade, que era preenchida por várias camadas de pedra (de diferentes tamanhos), com areia (ou terra batida), cascalho e argila (ou terra argilosa).
A camada superior constituía o pavimento através de pedras chatas e resistentes cuidadosamente ajustadas umas às outras, ficando ligeiramente elevado para realçar a estrada e, ao mesmo tempo, escoar a água das chuvas. No entanto, também terão existido vias que nem sequer foram calcetadas, provavelmente, por estabelecerem ligações entre centros menores.
Cronologicamente, a construção da primeira via romana, a Via Ápia, iniciou-se em 312 a. C. para ligar Roma a Cápua, no Sul de Itália. A partir daí construíram-se estradas por todo o Império Romano, da Escócia (Norte da Europa) ao Iraque (Médio Oriente) e à Argélia (Norte de África), daí a conhecida expressão «todos os caminhos vão dar a Roma». No seu apogeu, a rede viária romana atingiu cerca de 150 000 km.
A província da Lusitânia (onde se integrava o actual território português) não foi excepção. Viseu, particularmente, foi e continuou a sê-lo ao longo dos tempos, um importante centro viário que se estenderia por toda a região envolvente.
A comprovar este facto (no nosso concelho) temos os troços de Aldeia de Nacomba/Carapito (ver imagem), Nagosa/Longa ou a Estrada Larga de Moimenta da Beira em direcção a Beira Valente e Sarzedo.
Apesar do Império Romano do Ocidente cair no século V d. C., as vias romanas continuam a demonstrar que foram construídas para durar, pois muitas delas ainda permanecem nos nossos dias e outras são o traçado de algumas das principais estradas europeias actuais.


Autor: José Carlos Santos

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