“Vacca”, “Viso”, “Viseu”. Aqui nasceu D. Afonso Henriques há 900 anos!
Se o ser humano é natural de onde nasceu, o primeiro rei de Portugal é viseense, pois aqui despertou para a vida. Dois anos depois que Viriato, grande capitão lusitano, foi assassinado por ordem de Scipião, sucedera-lhe no governo Décio Junio Bruto. Foi este quem mandou edificar a fortaleza em redor da actual Sé de Viseu. Pôs-lhe o nome de Viso, por estar no alto ou viso da encosta fronteira e sobranceira à cidade de Vacca, hoje Cava, da qual a nova fronteira ficou como viso, aviso ou atalaia e daqui proveio o nome de Viseu (aviso teu, ou aviso é teu). De Viso ou Visoi parece ter-se formado o nome de Visontium ou Visoncio, Visonium ou Visonio e daí passou a Viseu. Desde este tempo remoto até praticamente ao ano 1000 foram intensos os conflitos entre cristãos e muçulmanos em toda a Península Ibérica e também pela região de Viseu e Lamego.
Nos inícios do segundo milénio sobressai a figura de Muhamed-Ali-Ami-Almaaferi, o qual, pelas inúmeras vitórias alcançadas sobre os cristãos, tomou o nome de Hajib Almançor que significava “ministro vitorioso”. Depois de ter vencido ao norte os catalães e navarros, conquista a Galiza, cujas fronteiras se estendiam até ao Rio Mondego. Destrói Medina Colimbria (Coimbra), entra pelas terras da actual Beira e pratica crueldades. Degola todas as freiras do mosteiro de Arcas, decepa algumas de Decermilo e leva consigo outras em cativeiro. Toma, Lamego, Trancoso de Viseu. Destrói o castelo de Caria e provavelmente o de Leomil e Lobozaim (hoje Castelo e Nagoza).
Em 1027 Afonso V passou o Douro, cercou Viseu, e foi ferido mortalmente. Sucedeu-lhe Bermudo III com cujo falecimento terminou a dinastia leonesa. A coroa passou então para seu cunhado Fernando o Magno, rei de Navarra, Leão e conde de Castela. Juntamente com Sisenando, rico moçárabe de Coimbra, começou a delinear a reconquista da Beira. Entra pelo Douro, reconquista e edifica castelos tantas vezes tomados por cristãos e sarracenos, entre eles o de Lamego, Viseu e Sena (Seia).
Fernando Magno morre em 1065. Deixa Castela a seu filho Sancho; Leão a seu filho Afonso; a Galiza, que abrangia já os territórios de entre Minho, Douro e Mondego, a seu filho Garcia. Sabe-se que em 1074, Afonso estava na posse pacífica de todo o reino que seu pai distribuíra por si e seus irmãos. Dividiu-o em condados e aí nasce o condado portucalense entregue ao conde D. Henrique e D. Teresa. Segundo vários autores, toda a região de Viseu e Lamego fazia parte integrante do condado doado a D. Henrique. Em 1097 os condes de Portucale dominavam desde o Minho até ao Tejo. D. Teresa viveu várias vezes em Viseu e atribuiu inclusivamente carta de foro e privilégios aos cavaleiros, clérigos, peões e mercadores desta cidade, em 1123. Quatro anos depois manda tirar inquirições a esta cidade. Aqui estava ainda D. Teresa quando deu à luz o seu primeiro filho, o futuro rei de Portugal, D. Afonso Henriques. Não há certidão de nascimento do nosso primeiro rei. Contudo, hoje em dia a tese de Almeida Fernandes parece ganhar mais força, isto é, Agosto de 1109. Fruto dessa proximidade a região de Viseu recebe dos primeiros condes uma série de atribuições, nomeadamente, entre outras, a confirmação do couto da igreja episcopal de Viseu; os forais de Viseu, Zurara, Sátão, Tavares, Cota, Ferreira de Aves e Alva; Bernardo Franco de Vila Boa (Sátão) é agraciado; D. Gouvilde recebe Marzovelos, Garcia Garcez recebe o couto de Fráguas, Paio Mendes casado com Maria Garcia da estirpe do couto de Leomil recebe Lamosa (Caria) e Garcia Rodrigues, filho de D. Rodrigo, senhor da honra de Fonseca e S. Martinho de Mouros, recebe o Couto de Leomil. A região de Viseu é sem dúvida nesse período aquela, em todo o Portugal de então, que mais actos e documentos de D. Teresa conta.
Nato em Viseu, D. Afonso Henriques continuou esta política de atribuições, concedendo, entre outras coisas, carta de foral à cidade e vindo a confirmar a carta de couto de Leomil. Na Monarquia Luzitana, frei António Brandão garante que o Infante D. Henrique passou os anos da meninice “nas quintas de Cresconhe sob a tutella do ilustre fidalgo Egas Moniz (...) tratando seu aio (…) de o instruir em todos os bons exercícios pertencentes àquela idade. Egas Moniz era senhor da Honra de Caria e de muitos outros territórios na região de Lamego. Fora inclusivamente a sua viúva que fundou o mosteiro das Salzedas. Ora, D. Afonso Henriques foi nestas paragens que passou a sua meninice e adquiriu parte das competências militares de excelente guerreiro que veio a ser.
Sem comentários:
Enviar um comentário