segunda-feira, 12 de outubro de 2009

«Crónica-Arqueologia» - O que ainda não foi dito...

O que ainda não foi dito sobre a Casa da Moimenta

Apesar da arquitectura da Casa da Moimenta manifestar uma certa simplicidade e ruralidade, estas são compensadas pela decoração em relevo sobre as portas da sua fachada principal: uma figura antropomórfica (máscara), motivos florais, uma mísula com um molho de colunelos em leque, a inscrição b ROIZ A (interpretada como Rodrigues) e a sua provável datação 1579.
Mas, por tudo isto, este monumento tem suscitado diversas opiniões, uma das quais (para mim, a menos aceitável) aponta que seja a casa do carrasco (nome dado ao indivíduo responsável pela execução de uma sentença).

Porque, se exteriormente nos atrai, esta construção de um só piso habitável com sótão e rés-do-chão (ambos para arrumos), situada na Rua do Pelourinho (Moimenta da Beira), surpreende-nos também pelo seu interior. É o caso de um nicho religioso embutido numa das paredes da sala principal (imagem I), em arco de volta perfeita (altura:0,76m x largura:0,48m), ainda asseado pela família residente – Loureiro.
No meu entender, este elemento esteve sempre ligado a alguém que procurou uma maior proximidade com Deus, assim como dois nichos recentemente identificados noutro edifício (próximo da Casa da Moimenta).
Além disso, ainda no seu interior, ao fundo do corredor de entrada, destacam-se quatro elementos decorativos na pedra de padieira (a imagem II mostra-nos três): um pentagrama (estrela de cinco pontas, à qual são atribuídos vários significados esotéricos), uma rosácea de seis pétalas num círculo (simboliza a eternidade e foi utilizada pelos povos celtas, latinos, etc.), uma cruz latina (símbolo do Cristianismo após Jesus Cristo ser crucificado) e outra rosácea hexapétala.

Numa época em que as pessoas dependiam exclusivamente de si próprias e onde o misticismo se misturava com uma devoção profunda, estas representações, assim como a presença do nicho religioso, na minha opinião, faziam parte das crenças protectoras do povo contra maus-olhados, infortúnios, demónios ou poderes obscuros e servirão, concerteza, para uma análise mais profunda, detalhada e completa da História deste edifício e serão, ao mesmo tempo, importantes para compreender a religiosidade da ocupação humana neste lugar.
E escusado será dizer que a Casa da Moimenta é mais um monumento que deve ser recuperado.

Autor: José Carlos Santos

1 comentário:

LMRC disse...

Mais uma fantastica crónica que temos o prazer de ler.
Fantastico mesmo.
Parabens pelo bom trabalho que o JCSantos esta a desenvolver.