quinta-feira, 28 de outubro de 2010

«Arqueologia» - Moimenta subterrânea

Passamos sobre eles centenas de vezes, mas não damos conta que, por baixo do solo da vila de Moimenta da Beira, permanece uma rede de canais que tem permitido, durante séculos, o abastecimento de inúmeras fontes e fontanários: Fonte da Pipa, Fontaínhas, Fonte de São João, Fonte da Mina, Fontes da Corujeira, etc.
Animado por este tema e no seguimento de um apontamento aqui feito (Os mitos subterrâneos do Terreiro das Freiras), foi possível visitar um desses espaços, no passado dia 18 de Setembro, juntamente com o Sr. Luís Garfinho (natural desta terra – ver imagem I), que prontamente aceitou este desafio.
Com efeito, entrámos num túnel, do lado direito da Fonte da Pipa, com cerca de 1,50 m de altura e 0,50/1 m de largura, que, contudo, não permite a uma pessoa de estatura média fazer a caminhada erguida.
Após alguns metros, deparámo-nos com duas ramificações: uma para a direita, entretanto, obstruída em consequência do arranjo, ocorrido na última década, da Rua do Visconde de Moimenta; e outra para a esquerda, com cerca de 10 m de extensão, na qual é possível ver a água desembocar na Fonte da Pipa por uma caleira de pedra, o que obriga o visitante a sair por onde entrou.
Recorrendo ao uso de lanternas e de outros apetrechos, verificámos que se trata de uma construção cuidada, de tecto e paredes de cantaria (ver imagem II), complementada por afloramentos rochosos apenas na parte posterior da referida fonte, onde, para além da penetrante escuridão e da presença de morcegos… o ar é rarefeito, muito quente e húmido.
Há quem diga que, em tempos antigos, era possível visitar a maioria destes túneis, inclusive um com ligação ao antigo Convento da Ordem Terceira de São Francisco, na freguesia de Rua.
Mito ou realidade, resta dizer sobretudo que, hoje, estes canais ainda mantêm o seu sentido útil, a função primordial no abastecimento de água à população, embora longe dos tempos em que, por exemplo, a Fonte da Pipa, monumento de aparato e um dos mais simbólicos desta vila, constituiu um local de frequência obrigatória, um espaço de convivência, de sociabilidade e integrador da vida comunitária… por outras palavras, longe dos tempos em que as pessoas levavam o cântaro na mão e faziam fila junto à fonte para ir buscar água para beber, cozinhar ou lavar!

Autor: José Carlos Santos
Publicado pelo Jornal Beirão no 08 dia de Outubro de 2010

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