quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

António de Sèves

Nasceu a 17 de Fevereiro de 1895. Era filho do Dr. António Maria Augusto Pereira Sèves de Oliveira e de sua esposa D. Adelaide Estêvão de Sèves de Oliveira. Casou com D. Fernanda Malheiro Toscano de Sèves e faleceu, sem descendentes, a 16 de Maio de 1970 vítima de doença súbita, enquanto se encontrava num restaurante da capital. Residia, ao tempo, na Rua Praia da Vitória, na capital. A missa de corpo presente celebrou-se no altar de sua casa, no dia 17 de Maio de 1970, pelo Reverendo João Baptista Pinto Dias.

Formou-se em Direito pela Universidade de Lisboa, no ano de 1914. Em 1923 concorreu para o Ministério dos Negócios Estrangeiros, mas viu gorados os seus intentos pela sua destacada militância monárquica. Começou a sua carreira em 1927. Abriu em Lisboa um escritório de Advocacia, exercendo tal actividade com brilhantismo, conhecendo-se o seu sucesso no famigerado processo do Banco de Angola e Metrópole.

Três anos depois, em 26 de Agosto de 1927, foi nomeado cônsul de 3.ª classe de Portugal na Bélgica. Exerceu ainda os cargos de encarregado de negócios na Bélgica e no Brasil. Em 6 de Março de 1928 passa à Direcção-Geral dos Negócios Políticos e Diplomáticos; em 3 de Junho de 1929 é nomeado para a Secretaria Portuguesa da Sociedade das Nações. Em 25 de Julho de 1933 é empossado no cargo de Chefe Adjunto do Protocolo do Estado na Presidência da República. Em 9 de Dezembro do mesmo ano, é nomeado primeiro secretário da Legação, na Direcção Geral dos Negócios Políticos; adjunto ao Protocolo da Presidência da República, nessa data. Entre 1936 e 1937 esteve encarregado de negócio na Legação de Bruxelas. Em 30 de Dezembro de 1938 foi nomeado Conselheiro da Legação, em harmonia com o
Decreto-lei n.º29318. Em 1939 esteve a trabalhar na embaixada de Bruxelas e daí foi transferido para a embaixada do Rio de Janeiro onde esteve de 20 de Março a 18 de Abril de 1940. Trabalhou, ainda, na Secretaria de Estado, até 14 de Janeiro de 1940. Representou ainda Portugal como encarregado de negócios em Bruxelas, nas festas do Centenário do Grão Ducado do Luxemburgo, realizadas em Abril de 1939. A seu pedido foi exonerado da carreira diplomática em 25 de Março de 1941, mas foi reintegrado em 1948, por força do Decreto-lei n.º37062, de 16 de Setembro.

A sua actividade teve especial relevo no Egipto, para onde Oliveira Salazar o enviou em período difícil, contando com o seu raro valor pessoal, mas também com um possível e previsível ambiente de simpatia por motivos de ordem familiar. Foi, por conseguinte, nomeado ministro plenipotenciário, na Legação, no Cairo, em 18 de Março de 1950. Na sua passagem por Roma, em viagem para o Egipto, foi recebido pelo papa Pio XII. Durante a sua permanência como ministro no Cairo, patrocinou a construção de um santuário dedicado a Nossa Senhora de Fátima para o culto católico, o qual foi inaugurado em 31 de Maio de 1952, de que sua mulher foi presidente honorária durante a construção da Igreja e esteve afecta ao culto em Heliópólis. Além de ter sido embaixador na Etiópia e no Egipto, foi-o também na Dinamarca. Em 19 de Março de 1956 foi nomeado para a Legação em Copenhaga. Em 1957 foi promovido a ministro plenipotenciário de 1.ª classe e continuou no mesmo posto, tendo depois apresentado credenciais como embaixador, ficando aí até 1959.

O Dr. António de Sèves foi um dos leomilenses mais titulados de sempre. Fez parte do Grupo Integralista e foi membro do Supremo Conselho da Causa Monárquica em 1953 e deixou larga colaboração sobre o assunto em livros e diversas revistas. Os laços familiares e de amizade que o prendiam aos círculos monárquicos fizeram dele um acérrimo defensor da causa monárquica. Ocupou, aliás, já depois de reformado, o cargo de Lugar Tenente do Duque de Bragança D. Duarte Nuno, por nomeação de 1 de Abril de 1966, o qual exerceu até à data da sua morte. Recebeu insígnia da Ordem Militar de Cristo e da Ordem Militar de Santiago. Foi Gran-Cruz e colar da Ordem Real de Danneborg da Dinamarca; Gran-Cruz do Mérito Civil de Espanha; Gran-Cruz do Mérito do Egipto; foi Comendador da Ordem de Leopoldo da Bélgica e da Ordem do Carvalho do Luxemburgo. Foi, também, Cavaleiro da Ordem da Casa da Bélgica e Cavaleiro da Legião de Honra da França.

Consta que nutria uma grande paixão pela sua terra natal, Leomil. Disso fruto, certamente, publicou um conjunto de novelas regionais a que deu o nome de Leomil. Do prefácio do livro, conclui-se que Sèves engendrou e iniciou a novelística no Verão de 1912, em Viseu, e nela se deteve até 1918. De resto, em 1912, e não fora certamente acto isolado, privou com António Alves Martins e Fernando de Quental. Se se gizar uma hermenêutica da matriz linguística do Leomil, fácil se lhe projecta o rótulo de Aquilino ante litteram, o que, pela afinidade de género e consonância espacial, não deixa de surpreender. A sua fervorosa preferência pela causa monárquica, não fosse ele, como se disse, Lugar Tenente de D. Duarte Nuno, ficou patente e imortalizada nas reflexões e discursos que pretendeu imortalizar em várias publicações por então saídas do prelo. Uma delas foi a tese que apresentou ao concurso público para para ministros plenipotenciários de 2.ª classe, em 12 de Julho de 1949, intitulada: A diplomacia e as realidades actuais. Noutra das publicações de que foi autor, concentrou-se sobre A Revolução Francesa e suas consequências, para a causa monárquica, bem entendido. Trata-se da publicação de uma longa conferência lida na Sala Algarve da Sociedade de Geografia, na noite de 23 de Maio de 1944, sob a presidência do Conselheiro João de Azevedo Coutinho. Com um discurso bem alinhavado, coerente e muito bem articulado, o Dr. António de Sèves lança duras críticas à Revolução Francesa. Atente-se nas palavras de que foi protagonista: “Felizmente o Povo, nos seus grandes movimentos, fala por meio de símbolos – e esses dizem sempre aquilo que o Povo quis dizer. O povo de Paris não tomou o Louvre, tomou a Bastilha; não atacou a sede da Realeza, assaltou os muros dum baluarte feudal […]. Uma revolução pressupõe um pensamento claro e um fim certo. Na chamada Revolução Francesa, não há nada disso. Os movimentos produzidos não foram uma revolução, foram uma desordem que alastrou, turva, lodosa, sem indicação que mostrasse, desde logo, a sua natureza e onde ia ou queria chegar […]. Na Revolução Francesa, não houve ideiais – houve acasos; não houve propósitos – houve acontecimentos; não houve a criação dum sistema – houve a imitação de instituições passadas; não houve um fim – houve expedientes, logros, crimes, ambições e desvairos […]. Na Europa só o Poder Real sabe conciliar a autoridade forte e a brandura compreensiva, o trabalho e a riqueza, a igualdade e a escolha dos melhores, a liberdade e a dignidade do Homem e o interesse e a grandeza do Estado […]”.

Entre os vários escritos (livros, artigos e novelas) do Dr. António de Sèves contam-se os seguintes: Leomil (1921) que contém um conjunto de novelas regionais, nomeadamente O Carreiro, P’las Maias, A velha Maria, Ao deitar das águas, O Pastor, No Dia de S. Silvestre e Coisas ruins; A Revolução Francesa e as suas consequências (conferência lida na Sociedade de Geografia sob presidência do conselheiro Azevedo Coutinho e publicada em 1944); Vontade de Compreender e Cumprir (1969); A nossa Independência assenta na secular Unidade Portuguesa Àquem e Além-Mar (1969); Desenvolvimento económico da Bélgica; A Diplomacia e as Realidades Actuais; A Chula (crítica literária com textos sobre Fausto Guedes Teixeira, António Correia de Oliveira, Aquilino Ribeiro, entre outros); Resposta à História do Crime – Contra-minuta forense (livro polémico publicado em 1929 acerca de um processo em que participou como advogado de defesa de José Bandeira); Desenvolvimento Económico da Bélgica – Resumo histórico; Plano de Sistematização dum Código Consular; Le Général Carmona – Ensaio sobre o 28 de Maio (separata da Revue Belge); Questões do Extemo Oriente, 1939 – Notas de Política Internacional; Ourique e 1640 – Ensaios; Resumo dos Interesses de Portugal no Brasil – Visão duma Política; O Senhor Dom Duarte – Sentimento Histórico do Rei; Verdades Ocidentais; A Loira; O Homem que marcha; A Casa dos Gritos; Varanda de Cigano; O San Tiago de Leomil (conto etnográfico dotado de importantes achegas lexicográficas e saído a lume na revista Terra Portuguesa); O Natal em Leomil.

Sem comentários: