sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

“O humor é o meu prozac”

Nasceu há 57 anos em Viseu, mas aos 19 escolheu Moimenta da Beira para viver e trabalhar. Hoje é professora de Português no Agrupamento de Escolas da Vila. Paralelamente estuda o humor até à exaustão. “O Lado Sério do Humor” é o titulo da sua tese de mestrado. “O Humor e a Capacidade de Liderança na Gestão Escolar”, resultou da uma pós-graduação que já chegou a Hong Kong, e está a terminar o doutoramento de onde há-de sair o estudo “Humor e Cognição” a partir da análise de skets dos “Gato fedorento”. Esta dedicação torna Teresa Adão pioneira no estudo do humor em Portugal.

É uma pessoa bem disposta?

Sempre fui. Nasci numa família de pessoas bem dispostas, os meus tios estavam sempre a dizer piadas, a minha mãe tinha um humor muito fino e acho que transmiti isso aos meus filhos.

Deve alguma coisa ao humor ou é o humor que está em dívida para com a professora?

O humor é o meu prozac, porque é graças ao humor que procuro dar a volta a situações difíceis da minha vida.

É uma apaixonada pelo humor?

Sou. Consegui deitar mão do humor para fazer o que cientificamente quero fazer. Portanto, acho que sou uma privilegiada, consigo a brincar fazer um trabalho sério, ou melhor, consigo divertir-me com o trabalho sério que faço.

O ser bem disposta teve influência neste caminho científico de estudar o humor?

Teve. E a outra vantagem é que o humor é um campo que está por explorar, há muito poucos trabalhos feitos neste campo.

Como surgiu a oportunidade de estudar o humor?

Foi através de um congresso em Bolonha. A minha orientadora de mestrado falou-me desse congresso, eu estava na fase de escolher um tema para a dissertação e agarrei o tema do humor. Como fiz o mestrado em sociolinguística, virei o humor para o campo da sociolinguística. Depois, fiz uma pós-graduação, peguei também no humor e adaptei-o. Queria fazer o doutoramento no campo da psicolinguística porque acho que não há nada que se possa fazer hoje em que se possa pôr de lado a cognição ou o funcionamento do cérebro, e foi uma maneira que arranjei de aplicar também o humor.

E está a fazer um trabalho pioneiro em Portugal?

Sim. Eu estou a trabalhar com duas orientadoras, uma no campo da psicolinguística, a professora Ana Oliveira da ESE (Escola Superior de Educação de Viseu) e a professora Isabel Ermida, do Minho, que me está a orientar na parte do humor. Em Portugal, somos apenas três pessoas a estudar o humor nesta base. Há uma senhora na Universidade de Aveiro que trabalha o humor, mas no campo do cinema.

O nome da tese de mestrado “O Lado Sério do Humor” significa que o humor não é uma galhofa?

Não é. Aliás, não há humor inocente. Miguel Esteves Cardoso diz que o sentido de humor dos portugueses não tem graça nenhuma, ou seja, nunca é só para fazer rir, tem sempre outros objectivos. O humor é uma forma de, por exemplo, de fazermos uma demonstração a alguém, é uma forma de darmos um conselho, é uma forma quase de criticarmos qualquer coisa.

Isso ficou testado no trabalho que desenvolveu?

Sim. No trabalho que desenvolvi no mestrado, peguei em 88 anedotas e fui estudar os temas e como é que essas anedotas estavam construídas. Do que é que nos rimos? Conclui que uma anedota é também um texto com os mesmos processos discursivos e os mesmos mecanismos de um texto normal, só que, além do texto normal, tem determinados mecanismos próprios de um texto humorístico.

Riso, gargalhada e humor são a mesma coisa?

Não. A gargalhada é uma forma de rir. Em relação ao riso, estão estudadas 12 formas de sorrir com significados completamente diferentes. O riso é algo físico e o sentido de humor tem mais a ver com a cognição. Nós podemo-nos rir e não estar a achar piada.

Pode haver humor sem rir?

Isso é mais difícil, porque o riso é uma exteriorização da nossa apreciação. Quando apreciamos o humor em termos cognitivos, compreendemos, inferimos, mentalmente percebemos qual era a situação e rimos. Embora estudar o humor não seja uma risada. Estudar o humor é uma coisa séria, têm que se aplicar modelos cientificamente provados.

Quando diz às pessoas que está a fazer um estudo sobre o humor as pessoas sorriem?

Mais do que sorriem, riem-se. Não é o tal riso de apreciar o humor, é o riso de expectativa. E quando digo que estou a trabalhar com os sketch do “Gato Fedorento” começam logo a rir.

Na tese defende que o riso tem propriedades profilácticas e terapêuticas. Quer explicar melhor?

O humor como nos obriga a exteriorizar os nossos sentimentos, liberta-nos da pressão e permite o distanciamento. No campo da medicina o humor está também a ser explorado.

Na pós-graduação, em que envolveu directores e coordenadores de escolas do distrito de Viseu, a que conclusões chegou?

Um líder que tenha um bom sentido de humor faz um melhor trabalho em termos de liderança, isto é, é mais bem aceite pelos seus colaboradores e consegue chegar com o seu projecto mais longe.

Para o doutoramento “Humor e Cognição” está a trabalhar com os “Gato Fedorento”. A escolha não foi inocente.

Não. Escolhi o “Gato fedorento” porque é um grupo que conseguiu uma popularidade estrondosa, é um fenómeno e tem outra característica que me levou a escolhê-los, que é serem multifacetados no trabalho que produzem.

Que análise está a fazer concretamente neste trabalho?

Primeiro eliminei as pessoas que não tinham sentido de humor, segundo uma escala. Depois peguei nos sketch que amavelmente me cederam, misturei-os com textos escritos por mim completamente neutros para não serem alvo de qualquer apreciação humorística. O meu objectivo é provar que, em termos cognitivos, de processamento de informação nós funcionamos todos da mesma maneira.

Quando pensa ter concluída a sua investigação?

Não penso, tenho que concluir até ao dia 22 de Fevereiro.

Ganhou um concurso literário de matemática. Para o cidadão comum, literatura e matemática são coisas muito diferentes. Esta história “O Valor de Pi (3,14)” prova o contrário?

Acho que sim, porque no centro de tudo tem que estar o homem. Virando isto para o campo do ensino, no centro da aprendizagem está o aluno e o aluno tem que se desenvolver enquanto cidadão para ser feliz e levar a vida virada para o rumo que ele quer. A matemática tem que levar o cidadão a estar o mais consciente possível do papel que tem na sociedade.

Qual é a mensagem do trabalho?

É a história de uma professora quase do século passado que adora matemática, põe-se a fazer equações no quadro, ela fica deslumbrada com aquele rendilhado e esquece os alunos. Estava dentro da sala para se realizar a ela própria, não via que os alunos não a acompanhavam. (Fonte: Jornal do Centro)

Ouvir entrevista!

17 comentários:

pedro jota disse...

Ainda ninguém começou aqui a criticar a Senhora?! A minha alma está parva!!

josé sério disse...

Ó sr.pedro jota,o sr.ainda deve ser novo nisto! Não vê que se ninguém critica a mulher, é porque acham que ela está com o peso ideal!!

MULHER COM "A" MAIÚSCULO disse...

Pois,já percebi:
As MULHERES SÃO MELHORES QUE OS HOMENS DESTE CONCELHO.
ELES É QUE NÃO QUEREM RECONHECER.

Se no mundo houvesse 75% das mulheres e 25% de homens o mundo não seria tão machista,E VIVERÍAMOS MAIS EM PAZ.

Vejam o exemplo da Alemanha.

Passem bem....s e n h o r e s

Humor--benvindo disse...

Gostei,sim senhora.
Gostei da entrevista,e muito mais o que ela "nos diz"
Já me apercebi que temos aqui uma Grande Senhora do humor, e não só.

É verdade,nós Portugueses,somos quase sempre para o negativismo,para não dizer péssimismo.

Dou-lhe os parabéns,pelo seu brilhantismo.

Como também sou mulher,tenho sentido que as mulheres da nossa geração,nem sempre foram levadas a sério,por isso,algum humor com inteligência,é sempre benvindo.

As minhas saudações

Leão fedorento! disse...

Segue, segue, segue, segue...!

Anónimo disse...

Professora, nunca me vou esquecer do dia em que eu e mais dois grandes amigos, nos sentávamos ao seu redor a ouvi-la recitar alguns poemas de Fernando Pessoa. Preparávamo-nos para o exame de português, e no meio disto tudo surgiu um poema do mesmo (Fernando Pessoa) chamado: "O menino da sua mãe"!!
Nunca fui muito estudioso, tão pouco bom aluno, mas não sei porquê naquele momento decidi estar atento! Ouvi o mais desperto possível todas as palavras que saiam da sua voz meiga e amiga, e no fim, talvez por magia, senti que estava a ouvir a melhor música de sempre!
"Meninos isto é lindo" dizia a professora! Eu, sendo um puto meio rebelde, questionava-me se de um momento para o outro tinha aprendido a gostar de estudar!
Mas na verdade este tipo de momentos só estão ao alcance de poucas pessoas. Aquilo que se passou, foi o que qualquer professor digno desse nome tem como objectivo. O que se passou foi que a minha querida professora Teresa, imitando o Maradona com os seus toques do outro mundo, mostrou que havia uma mensagem a ser transmitida, havia uma harmonia em tudo que estava escrito, no fundo mostrou o gozo que dá o conhecimento!
Foram anos e anos que privei com a professora, sempre amiga, sempre a puxar-nos para cima e a dizer que éramos capazes, sentava-se ao nosso nível, falava de igual para igual, respeitava-nos, ouvia as nossas ideias, procurava mil e uma forma de nos ajudar, não se contentava enquanto não estivesse-mos esclarecidos, sempre com uma piada, sempre com um sorriso!
Meus senhores, quando a transmissão de conhecimentos
é feita de uma forma tão honesta e verdadeira torna-se impagável.
E é por tudo isto, que agora entendo que quando um professor é bom, é para sempre respeitado e admirado!
Para a melhor professora do mundo, um beijo enorme do seu aluno e amigo: Gonçalo Coelho!

papai noel disse...

Dá-lhe Gonças!

Mulher disse...

Nota-se que este Senhor Gonçalo,decorou MUITO bem a lição.

A SENHORA de quem se fala aqui,foi sua Professora de Português!!!
O senhor não deu erros como se costuma ver por estas bandas,o que quer dizer que esta Senhora foi muito boa Professora.

Grande mensagem,a dela,e também a sua.

Pois então devemos todos prestar-lhe homenagem,pelo trabalho que tem feito.

Não tenho o prazer de a conhecer,mas deixo-lhe aqui a minha simpatia,pelo trabalho desenvolvido.

Bravo SENHORA PROFESSORA,se o país tivesse muitos professores como a Senhora,não estaríamos com a fraca cultura que temos.

J.A.

josé sério disse...

Ó sra.Mulher(J.A),não pudemos tirar o mérito à professora Teresa,que é boa professora(eu também tive aulas com ela). Mas também não pudemos tar aqui a dizer que é a responsável pela cultura que o Gonçalo adquiriu ao longo de tantos anos de estudos. Afinal, ela só lhe poderia ter dado aulas no 5º e 6ºano(no meu tempo era o 1º e 2º). Isto de ela ser boa professora ou não,nem sequer tem nada a ver com o que se devia estar aqui a comentar.

Alex disse...

Parabéns a professora pelo inovador estudo, parece-me interessante! Afinal de contas o humior é construido e tem varios significados, achei excelente.
Grande homenagem Gonçalo, de certeza que a prof. Teresa vai ficar feliz ao ler isso (:

Mulher disse...

Já reparei que "alguns" dos Senhores que escrevem aqui,não são ADMIRADORES dos trabalhos das Senhoras.

Porque se se estivesse a falar de Senhores,iriam VANGLORIAR o FEITO,mas como é uma Senhora.....
O Sr. Gonçalo prestou aqui a homenagem dele a uma pessoa que lhe ABRIU a porta da cultura,embora como alguém aqui dissesse,que esta Senhora não foi a responsável pela cultura que o Sr.Gonçalo adquiriu ao longo da vida,mas por vezes,e todos o sabemos,que a tal PORTA que foi aberta,teria sido o caminho certo para ele e talvez para outros alunos.

Continuo a dar os parabéns à Senhora D.Teresa.

Saudações para todos

Anónimo disse...

Tirar um Doutoramento com base em quatro "palhaços" chamados Gatos Fedorento é trivial, quanto aos palhaços naturalmente!!!

Estes senhores que nem uma piada sobre o Benfica (instituição que merece todo o respeito)dizem ou disseram contrariam o que deve ser o humor.ABRANGÊNCIA NA SUA PLENITUDE

MAS O TEMPO PODE TRATAR DELES A NÃO SER QUE VÃO TRABALHAR PARA O CANAL BENFICA.

josé sério disse...

Eu acho que a sra. Mulher está aqui a ver se arrraja aqui uma guerra Mulheres VS homens. A sra. já reparou que aquele senhor de Alvite foi aqui criticado forte e feio e é um HOMEM?! Isto não tem nada a ver com o sexo das pessoas,mas sim com o seu valor! EU TAMBÉM DOU OS PARABÉNS à prof.Teresa, mas não é pelo seu sexo, é mesmo pelo seu VALOR!

Anónimo disse...

Parabéns! Nota vinte!Que privilégio poder privar com uma Senhora como a Doutora!É que mesmo sendo estúpido/a ou sisudo/a ou ainda ignorante, ao seu lado tornamo-nos logo inteligentes, bem humorados e sábios!só os inergúmenos é que ainda não perceberam!
Tem o meu voto para Presidente da República!
luisa Vaz

preconceitos disse...

Boa noite.

Tenho visto aqui vários comentários em relação à Professora Teresa,e também me apetece deixar aqui um comentário,não é meu hábito escrever aqui,mas como vejo que alguém gosta de fazer guerrinhas entre homens e mulheres,sendo eu mulher também,faz-me impressão como alguns homens não vêm com bons olhos os bons feitos de uma mulher.

Parabéns Luísa Vaz,defendeu muito bem aquilo que eu chamo de preconceito estúpido de alguns(algumas) comentaristas.


Um grande viva,a todas as mulheres do nosso país.
E já agora,um bom Natal,e também um grande viva para muitos homens que o merecem.

João PM Dias disse...

Um grande abraço para uma das professoras que mais me marcou (positivamente) durante todo o meu percurso escolar!

Boas Festas!

Cumps,
João Dias

Anónimo disse...

E se aparecesse por aí:

Um Wikileaks?
Já vi isso escrito nas sondagens do bom comportamento da Cãmara.