quinta-feira, 24 de março de 2011

«Arqueologia» - O «Marco dos Três Concelhos»: menir e/ou marco divisório

Situado na Lameira Longa (1) , em relevo pouco acidentado, o «Marco dos Três Concelhos» (2) poderá representar um antigo menir (3) que os tempos posteriores prezaram e recuperaram como marco divisório, de carácter administrativo, predial ou de pastoreio entre comunidades vizinhas.

Trata-se de um monólito granítico, de configuração subrectangular, com uma altura de 1,40 m acima do solo e um diâmetro de 1,05 m no topo e 1,30 m na base.

Fincado verticalmente no solo e talvez em posição original, apresenta evidentes vestígios de afeiçoamento que lhe dão um aspecto fálico, como é relativamente frequente nos menires. Testemunhando quiçá a sua (re)utilização em tempos modernos para demarcar limites administrativos e territoriais, foram gravadas dez cruzes aleatoriamente pela sua superfície, inclusive uma semelhante à da Ordem dos Templários (presentemente em estudo) e uma sequência de datas na zona mediana de um dos lados, de difícil leitura, parecendo-me, com as devidas reservas, ser: 1864   18...    18...    1829 (interpretação feita a partir da parte mais alta do monumento).

Apesar da cobertura vegetal da área impedir de momento trabalhos de prospecção mais pormenorizados, encontramos, a poucas dezenas de metros do lado Sudoeste deste monólito, outros sítios arqueológicos, nomeadamente duas mamoas (4), que, para além de ser comum aos menires localizados no Planalto da Nave, igualmente próximos de monumentos megalíticos (5), confirma-se também aqui uma das paisagens privilegiadas pelas comunidades pré-históricas para a implantação dos seus túmulos.


Para chegar ao monumento deve seguir-se, a partir da povoação de Vila Chã da Beira (concelho de Tarouca), pelo estradão que conduz ao Parque Eólico do Douro Sul recentemente implantado, num percurso sensivelmente próximo dos limites dos municípios de Tarouca, Armamar e Moimenta da Beira. O monólito fica a algumas dezenas de metros, numa chã levemente deprimida, do lado direito do caminho.


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1-Trata-se de uma área planáltica que ronda os 900 m de altitude, parcialmente pertencente à freguesia de Sarzedo, no limite Noroeste do concelho de Moimenta da Beira.

2-Popularmente descrito como sendo o marco que delimita os municípios de Moimenta da Beira, Tarouca e Armamar.

3-Monólito de dimensões variáveis, com aspecto rude ou afeiçoado, por vezes, decorado, destinado a ser implantado verticalmente no solo. Trata-se de um monumento pré-histórico, inserido no fenómeno megalítico, não tumular. Constitui eventual local de culto, ritualização ou demarcação de territórios e pode aparecer isoladamente, agrupado em alinhamentos e cromeleques ou associado a outros monumentos megalíticos.

4-Designação popular do montículo artificial, composto por terra e/ou pedras, de forma mamilar, que tem fundamentalmente como funções o isolamento e a sustentação das estruturas funerárias, a ritualização e a monumentalização.

5-No território nacional, situam-se cronologicamente entre 4 500 e 2 500 anos antes de Cristo.



Publicado no Jornal Beirão em Fevereiro de 2011
Autor: José Carlos Santos

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