sexta-feira, 1 de julho de 2011

José Bernardo Bandeira Dias, um dos carrascos do Gungunhana

José Bernardo Bandeira Dias (1871-1933) era natural de Alvite mas foi Leomil a sua terra adoptiva, indo para aí desde muito cedo e aí passou a maior parte da sua vida. Foi um militar distintíssimo. Mais conhecido por capitão Bandeira Dias, era monárquico. Casou com D. Júlia Rodrigues Bandeira Dias (1883-1978) e com ela teve dois filhos: Carlos Reis Bandeira Dias (1911-1993) e Nuno Reis Bandeira Dias.

Tomou parte das campanhas militares de África de 1895 a 1902, em Moçambique (pertencendo ao 2.º batalhão do Regimento de Infantaria n.º2), em Maganja da Costa, Mataka e Barué. Pertenceu à força que em 28 de Dezembro de 1895, sob as ordens de Mouzinho de Albuquerque, capturou e prendeu o temível ex-régulo de Gaza Gungunhana, no Chaimite, bem perto de Lourenço Marques, ajudando à sua transferência para o Tarrafal. Para assinalar esse enorme feito, possuía em sua casa dois desenhos-retrato, seu e de Gungunhana, esboçado na época, hoje à guarda de seus familiares.

Foi condecorado muitas vezes. Segundo informações constantes no seu espólio material e documental, foi Cavaleiro da Torre e Espada com Colar de Prata. Recebeu medalha da rainha D. Amélia em 1895 e 1896. Foi condecorado com medalha da monarca referida na sucessão da expedição a Moçambique, tendo como teatro de operações a Maganja da Costa em 1898. O mesmo aconteceu nas operações que efectuou no Mataka em 1899 e no Barué em 1902. Acrescem a estas, quatro medalhas de prata: uma de assiduidade nos serviços do Ultramar; uma de serviços distintos no Ultramar; uma de classe de valor militar e outra bons serviços.

Recebeu um louvor em 4 de Abril de 1900, pelo zelo que mostrou em todos os serviços que a seu cargo estiveram como comandante interino do Forte de S. Carlos. Recebeu outro louvor em 11 de Dezembro de 1905 pelo zelo e dedicação com que desempenhou as funções de serviço militar junto da Comissão da demarcação da fronteira sul do distrito militar de Tete, como também pelo auxílio que prestou à mesma comissão nos trabalhos da aludida demarcação. Recebeu um derradeiro louvor, em 9 de Outubro de 1906, pelo zelo, boa vontade e apreciável resistência de que deu provas durante as operações realizadas no alto de Ligonha entre 14 de Agosto e 13 de Setembro do mesmo ano, com vista à montagem de um novo posto.

Classificou-se com o 2.º prémio oficial do Quartel-general da Província de Moçambique no concurso por trabalho topográfico e itinerários. Foi nomeado Chefe interino da secção de Obras públicas do distrito de Tete pela portaria provincial n.º168 HA de 26 de Fevereiro de 1915. Foi administrador do Alto Lomué do E. Ag do Luzella, entre 1908 e 1910. Foi também administrador da Companhia Sutro Matadane em Angoche no ano de 1912. Faleceu em 1 de Setembro de 1933.

Os seus feitos, bem como os vestígios que deles ficaram, possíveis ainda de contemplação, são um manancial importante de informações que devem ser preservadas e que ajudam a compreender essa fatia importante da nossa história relativa não apenas ao período de transição do regime monárquico para o regime republicano, com um importante foco de estudo sobre a matéria das condecorações ao jeito monárquico, como também relativa ao tempo da guerra colonial já que esta personalidade exerceu a sua acção também nesse contexto.

Honra seja feita à família desta criatura por preservar com zelo a sua memória através dos seus escritos, dos seus vestuários, das suas condecorações, e cumpre-me agradecer-lhes o contacto directo que me proporcionaram com esse espólio e as informações que simpaticamente que me transmitiram ao que juntaram uma pré-disposição em colaborarem numa exposição, a qual, estou certo, um dia acontecerá.

Publicado na última edição do Jornal Terras do Demo

Sem comentários: