quarta-feira, 21 de setembro de 2011

«Arqueologia» - A vieira: símbolo do peregrino


I. Pormenor (em granito) da vieira encimada por uma torre; II. Aspecto geral da Capela de Santa Bárbara
Freguesia de Castelo

Na frontaria da Capela de Santa Bárbara, pequeno templo situado num dos espaços mais agradáveis do concelho moimentense, sobressai um dos símbolos[1] tradicionais do peregrino ocidental: a mística concha – vieira[2] – figura intimamente ligada ao culto de São Tiago Maior[3] e, extensamente, a outros santuários[4], a lugares onde se veneram outros santos, a locais onde se diz que a Virgem Maria terá aparecido e onde curas milagrosas são, por isso, esperadas.
Um símbolo auspicioso, lunar e feminino, bastante popular na arte (veja-se o exemplo do famoso quadro de Sandro Botticelli – O Nascimento de Vénus – uma pintura do século XV representando Vénus, a deusa romana do amor e da beleza, emergindo do mar numa concha), ligado à concepção, à fecundidade[5], à regeneração e ao baptismo[6] (motivo pelo qual se encontram, inclusive, pias baptismais com a sua forma).

Publicado no Jornal Beirão (69.ª edição)


[1] Outros símbolos do peregrino: a cabaça (ou o cantil), a tigela, a saca, o chapéu de aba larga, o capuz, o bastão, etc.
[2] Aquele que se tornou o símbolo de Santiago por excelência, figurando na sinalética do Caminho. Sobre o seu significado, diz-se que terá servido de credencial para identificar o peregrino, de modo a que este pudesse receber abrigo e alimentação, ao longo de todo o percurso até Finisterra (nome derivado do latim finis terrae, ou seja, fim das terras), na costa atlântica da Galiza, um lugar conhecido no passado como o fim do mundo.
[3] A vida e morte do apóstolo Tiago Maior, envolta em lenda, é das mais fabulosas de entre todas as histórias de santos. Tiago foi mandado matar por Herodes Agripa I em Jerusalém, atirado às feras e sepultado na Galiza, depois de uma longa viagem numa barca, desprovida de vela e de leme e coberta de conchas, desde a Palestina, pelas colunas de Hércules, até à Hispânia, penetrando nas suas terras pelo rio Sar, que o apóstolo havia evangelizado. Daí outra das versões do simbolismo da concha.
[4] Como o Santuário da Lapa, na Freguesia de Quintela, Concelho de Sernancelhe, Diocese de Lamego.
[5] Há quem associe a forma bivalve da concha ao órgão sexual feminino, que se abre para ser fecundado. A pérola representa o novo ser e a concha o símbolo da vida.
[6] Pela sua natureza aquática e semelhante, no formato, a uma mão, a concha está ligada ao primeiro dos sete sacramentos da Igreja, segundo o qual a pessoa que o recebe, através de uma ablução de água ou imersão, fica a fazer parte da religião cristã e também recebe um nome, como um acto de purificação dos pecados.

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