quarta-feira, 9 de maio de 2012

«Arqueologia» - Marcos Geodésicos


Marcos geodésicos
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Marco geodésico Cadelas
           
Os marcos geodésicos são pequenas construções geralmente de betão, em forma cilíndrica ou piramidal, popularmente conhecidas por “talefes”, que têm como função representar pontos de referência no território (daí a sua implantação em locais altos e destacados), com linha de visão para outros vértices, permitindo a obtenção de coordenadas com elevada precisão.
São cerca de oito mil[1] que formam a rede geodésica portuguesa[2], dividindo-se em três ordens de importância/visibilidade:
·         1.ª ordem (em forma de pirâmides quadrangulares, distando entre 30 a 60 quilómetros);
·         2.ª ordem (cilindro mais cone com listas, distando entre 20 a 30 quilómetros);
·        3.ª ordem (cilindro mais cone listado, de tamanho menor que o anterior, distando entre 5 a 10 quilómetros).                                     
Dezoito encontram-se implantados no concelho de Moimenta da Beira que passo a apresentar, sendo interessante reparar particularmente que os de Cabeça Gorda, Pedra Alta, Santa Bárbara 2.º, Santo Antão, Sete Castelos e Surrinha, além da sua utilidade cartográfica/topográfica, referenciam locais de interesse arqueológico:

Topónimo                  Altitude          Vestígio arqueológico
            __________________(em metros)____________________
            Alva                           885                  -
Cabeça Gorda            942                  Insculturas[3]
Cadelas                      697                  -
Lagoa                         894                  -
Leomil[4]                   1011                -
Moimenta                   731                  -
Pedra Alta*                968                  Tumuli[5]
Pendão                       809                  -
Picoto da Vinha          867                  -
Porto da Laje             954                  -
Ranhã                        669                  -
Santa Bárbara 2.º       768                  Necrópole[6]
Santo Antão*             841                  Vestígios[7] de habitat
Seixo Segundo           713                  -
Sete Castelos*           976                  Achado[8] avulso
Surrinha*                   961                  Vestígios[9] de habitat
                                                                                                                                            
*Sítios inventariados pelo Doutor Domingos Cruz, em 2001, na Dissertação de Doutoramento em Pré-história e Arqueologia: O Alto Paiva: Megalitismo, Diversidade Tumular e Práticas Rituais durante a Pré-História Recente, 2 Volumes.

Publicado no Jornal Beirão (83.ª edição)
                                              


[1] Um dos mais famosos marcos geodésicos portugueses situa-se a 245 metros de altitude e foi implantado na própria estrutura da ermida de São Pedro das Cabeças (em Castro Verde, Beja), um monumento mandado construir no século XVI pelo rei D. Sebastião no local onde, em 1139, terá ocorrido a Batalha de Ourique, em homenagem ao primeiro rei de Portugal e à sua vitória sobre os mouros.
[2] O Centro Geodésico de Portugal continental está situado no cume da serra da Melriça, freguesia e concelho de Vila de Rei, distrito de Castelo Branco. Aqui encontramos o marco geodésico padrão Picoto da Melriça, construído em 1802, associado à história da cartografia moderna portuguesa, a qual iniciou no século XVIII, no reinado de D. Maria I. A rainha terá encarregado a Academia Real de Marinha de iniciar os trabalhos de triangulação geral do território, com vista à realização da Carta Geográfica do Reino.
[3] De cronologia incerta.
[4] Inclui três marcos, um dos quais o único de 1.ª ordem neste concelho.
[5] Montículos de terra e/ou pedras que envolviam e cobriam as sepulturas megalíticas.
[6] Em redor da capela de Nossa Senhora da Conceição são visíveis cinco sepulturas escavadas na rocha. Cronologia medieval.
[7] Neste local foram recolhidos fragmentos cerâmicos de datação pré-histórica.
[8] Aqui foi encontrado um fragmento de lâmina, em sílex castanho-mesclado, não retocada, com vestígios de utilização em ambos os lados. Cronologia imprecisa. Dimensões: 20/17/4,5 mm.
[9] Foram identificados fragmentos cerâmicos de idade histórica e outros de cronologia indeterminada.

Autor: José Carlos Santos

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