Fantástica recuperação de património
degradado
Aspeto da torre da casa depois de recuperada.
Geograficamente
integra a Quinta da Alagoa, no limite dos concelhos de Moimenta da Beira e de
Sernancelhe, respetivamente entre os principais aglomerados de Prados e Faia.
Não ficando muito distante de estâncias
arqueológicas como as necrópoles medievais de Fornelos (ou Quinta da Raposeira)
e do Corgo do Poio (na albufeira da barragem do Vilar) e onde inclusive, em
1788, foi encontrado um marco miliário[1], conta-se
que nesta casa, que contudo acabou por ficar ao abandono e permanecer durante
muito tempo em estado de degradação, morou em tempos um homem muito rico, contudo
de temperamento difícil, arrogante e orgulhoso, a quem chamavam «Rei Chiquito». Frequentemente metido em
barafundas com os seus vizinhos e habitantes dos Prados e da Faia, e por ser um
político exaltado, quiseram prendê-lo e castigá-lo. Assaltaram-lhe a casa,
remexeram tudo, mas nunca o encontraram. Afastados e já longe, o Rei Chiquito
aparecia depois à janela bradando: «Rei
Chiquito já cá está, quem quiser que volte cá!» E voltavam, mas nada! Isto
repetia-se inúmeras vezes sem que os seus perseguidores conseguissem, porém,
alcançá-lo. Sempre que voltavam a casa, esta encontrava-se vazia e há quem diga
que esta escapatória se devia à existência de uma mina com cerca de cento e
cinquenta metros de comprimento construída pelo mesmo e que ia dar a um souto. Misterioso
refúgio que certamente valerá a pena descobrir!
Daí ser romanceada por uns, para outros
ser mais uma casa assombrada e, mais importante, ter motivado a família Oliva
Teles a conseguir uma fantástica recuperação de património degradado. «Ver esta Casa reconstruída é a concretização
de um sonho antigo», revelam os proprietários.
Aliás, quem a visitar constatará de
imediato não só a simpatia de quem aí vive, como também a dedicação, o bom
gosto e o cuidado que os mesmos tiveram em manter as características da construção
original, os inúmeros pormenores quer dentro como por exemplo o silo de
armazenamento escavado no solo e as namoradeiras das janelas, quer
exteriormente visível na invulgar torre (elemento que lhe deu o nome), no nicho
religioso ou particularmente na inscrição gravada na pedra que serve de padieira
de uma janela (outro vestígio merecedor de estudo), sem, porém, terem esquecido
as exigências de conforto e funcionalidade que nos nossos dias uma habitação,
seja em meio urbano ou rural, deve necessariamente considerar. E como se não
bastasse, desfrutará, ao mesmo tempo, de uma maravilhosa vista sobre o vale do
Távora e de um ambiente de total descontração e harmonia com o campo!
Publicado
no Jornal Beirão (88.ª edição)
[1] Trata-se de uma coluna de pedra que se destinava a
ser colocada junto às vias romanas, como informação para os viajantes,
indicando a distância em milhas e o nome do imperador reinante à data da
construção ou da reparação da via. Este vestígio arqueológico aparece mencionado
no Elucidário das palavras, termos e
phrazes de Frei Joaquim de Santa Rosa de Viterbo e hoje integra a Coleção
Epigráfica da Assembleia Distrital de Viseu. Com base no atual inventário, mede
2,20 m de altura e provavelmente estaria colocada junto à antiga via romana
Mérida – Braga. No entanto, existem duas interpretações a seu respeito:
1. CONCILIO.AN / TIQVO.
/ CAIO BAQ. / FORTISSIMO / CAES. / ANTONIO / TANTI … / : FILIO / BONO / REIP / NA / TO
(segundo a ficha
de inventário da Assembleia Distrital de Viseu).
2. CONSTAN /
TINO / CAESAC / P(io) FORTIS / SI.MO CAES(ari) / DIVI.CONS / TANTI /
P.IX / FILIO / BONO / REIP(ublicae)
/ NA / TO
(interpretação
feita pelo Dr. João Inês Vaz em Epigrafia
Romana da Assembleia Distrital de Viseu (1978), que traduz da seguinte
forma: Ao imperador Constantino, César,
Augusto, Pio, Fortíssimo, César, filho do divino Constante, nascido para bem da
República.)
Na
povoação da Faia foi detetado outro miliário, num jardim de uma habitação
particular.
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