sábado, 28 de setembro de 2013

«Ambiente» -Turismo e ETAR do rio Paiva estão a degradar qualidade da água

Ao longo de 110 km de margens, a Associação SOS Rio Paiva vai encontrando todo o tipo de lixo, de panelas a sapatos, a maioria deixada para trás por turistas desleixados, mas também algum escondido para ninguém ver.
O grupo promoveu neste sábado uma acção de limpeza em vários pontos do caudal deste afluente do Douro, desde Moimenta da Beira, onde nasce, até Castelo de Paiva, onde desagua, e aponta o regresso de emigrantes de vários concelhos banhados pelo rio como parte do problema.

Segundo Sérgio Caetano, presidente da Associação SOS Rio Paiva, "há vários concelhos na região que triplicam ou quadruplicam de população no mês de agosto", devido ao regresso temporário de emigrantes que sobrecarregam as ETAR (Estações de Tratamento de Águas Residuais), que por sua vez se revelam subitamente incapazes de "comportar todo o afluente que recebem".

Entre um grupo de pouco mais de dez pessoas, Sérgio Caetano disse à agência Lusa, em plena limpeza da praia fluvial de Lugar da Várzea, Castelo de Paiva, que "o problema existe um pouco por todo o lado, uma vez que as pessoas são comodistas", pelo que parte do objectivo é também educar os veraneantes fluviais.

"Não nos parece que custe assim tanto, a cada um de nós, sempre que vem para o rio, deixá-lo da mesma forma que o encontrou. Faz parte de uma cultura portuguesa que infelizmente ainda não tem esse tipo de sensibilidade, mas que é perfeitamente normal noutros países", lamentou o presidente da Associação SOS Rio Paiva.

O ambientalista alerta também para um potencial problema de saúde pública que "é preciso acautelar e resolver", adiantando que "em Castelo de Paiva é muito frequente as análises à água acusarem a existência de salmonela, o que num dos rios mais limpos da Europa é bastante preocupante e é um assunto que durante muitos anos foi considerado tabu".

"As pessoas não queriam falar sobre isso", explicou Sérgio Caetano, considerando tratar-se de "um assunto que deve ser encarado e assumido para que o problema seja resolvido, em vez de o tentarem esconder."

Todos os voluntários que procediam à recolha do lixo e exibiram à Lusa o conteúdo dos sacos em que guardavam os detritos - invariavelmente repletos de copos de plásticos e latas de cerveja, mas também com guarda-chuvas, sapatos e utensílios de cozinha - referiram "o choque" que sentiram ao encontrar desperdícios cuidadosamente escondidos.

"O que me surpreendeu mais foi as pessoas esconderem o lixo", disse Joana Caetano, "põem-no em sítios de difícil acesso", frisou, supondo que "as pessoas atiram o lixo para trás porque se não o vêem é como se ninguém visse e não fizesse mal".

A prática de canoagem e o rafting (descida do rio em botes de borracha), juntamente com a frequência das praias fluviais da região, levam a que o presidente da SOS Rio Paiva acredite que "o dinheiro do turismo que entra nesta região podia ser mais aproveitado para resolver estes problemas".

"De outra forma não conseguimos ter um desenvolvimento verdadeiramente sustentável", concluiu Sérgio Caetano.
Fonte: Público.pt

Sem comentários: