sexta-feira, 14 de novembro de 2008

«Crónicas» - "História da nossa Terra!"

Álvaro Coutinho - O Magriço, um dos doze de Inglaterra

Álvaro Gonçalves Coutinho foi um dos filhos de Gonçalo Vasques Coutinho e D. Leonor Gonçalves de Azevedo. Seu pai, foi um dos mais esforçados cavaleiros de D. João I. Por alturas da crise dinástica apoiou o mestre de Avis nas cortes de Coimbra, o que lhe valeu a curto prazo amplas doações do futuro D. João I. O seu prestígio e preponderância regional passaram a ser notórios. Os inúmeros conflitos em que se envolveu, com o bispo e cabido de Lamego, com os antigos padroeiros de S. Paio de Caria, com os da Cunha e Pachecos, evidenciam-no. O ter chefiado os efectivos portugueses que alinharam na célebre Batalha de S. Marcos em Trancoso a 29 de Maio de 1385, denota-o também. Dir-se-ia da sua pessoa, na época em que viveu: “este senhor he homem grande he poderoso e não podem com ele alçar direito.”
Os sucessos militares de Gonçalo Vasques Coutinho foram continuados pelo seu filho Álvaro Gonçalves Coutinho, o celebérrimo Magriço. As façanhas militares de que foi protagonista, nomeadamente o ter pertencido aos Doze de Inglaterra, foram imortalizadas pelo poeta Camões e pelo cronista Fernão Lopes. Há quem coloque em causa a veracidade da aventura dos famosos doze de Inglaterra, dizendo que se trata de uma novela de cavalaria. Há quem defenda também que a história ocorreu no Porto e não em Londres, e o facto é que o Magriço viveu na invicta com sua esposa D. Isabel de Castro.
Rezam as crónicas que D. João I celebrou casamento com D. Filipa de Lencastre na cidade do Porto. Com D. Filipa, vieram doze Damas inglesas, belas, recatadas e virtuosas. As suas qualidades haviam sido postas em causa apenas por alguns cavaleiros fidalgos ingleses que as haviam desrespeitado. Em tom de troça, os ingleses lançaram um desafio: se alguém lograsse desdizer as suas palavras e provar que as Damas inglesas eram belas, que os afrontassem em combate. Consideradas injuriadas, as Damas foram à presença do Duque de Ghent solicitando que lhes arranjasse cavaleiros que velassem por suas honras. Não tendo ele homens dispostos a participar em tal desafio, nomeou-lhes doze cavaleiros portugueses e solicitou ao Rei luso, seu genro, que os enviasse. Eram eles: Álvaro Coutinho, Álvaro Almada, João Pacheco, Luís Malafaia, Rui Cerveira, Pedro da Costa, Soeiro da Costa, João da Cunha, Martim Azevedo, Rui Silva, Vasco Corte-Real e Lopo Pacheco. Imitando os cavaleiros da Távola Redonda do Rei Artur, lá partiram os portugueses numa nau com destino a Londres. Contudo, o Magriço partiu por terra, desenfadando-se com aventuras. Prometera encontrar-se com os seus onze companheiros no local do desafio, e cumpriu. A assistir ao confronto encontrava-se uma multidão. O Magriço picou a ilharga do cavalo e avançou na arena e fixou o cavaleiro inglês. Como uma estátua de ferro na sua armadura de 30 kg preparou a sua lança para o primeiro embate e lançou ao ar a voz de comando que os seus companheiros estavam habituados a ouvir: Por S. Jorge! Começou o combate, lanças contra escudos e armaduras, relinchos de cavalos, corpos violentamente desmontados das celas. Reparando o Magriço no adversário de negro, o mesmo que lançara o desafio, cavalgou para ele e quase o lançou ao chão. Dando meia volta, empreendeu novo ataque. Tinha escolhido para si um dos mais difíceis e temíveis cavaleiros de Inglaterra. Apontou-lhe a lança com tal artimanha que o levantou em peso da sela do cavalo e o lançou ao chão onde ficou inerte. O Magriço ergeu então o seu cavalo e soltou o grito da vitória. Os ingleses estavam por terra, a vitória pertencia aos portugueses. Para celebrar a façanha, os cavaleiros comeram junto das Damas e do Duque. Álvaro Gonçalves Coutinho, o mais tímido de todos, recebia os constantes louvores de uma das Damas. Entretanto os cavaleiros derrotados preparavam vingança mas os portugueses partiram antes de permitir tal intento. O Magriço não tornou logo a Portugal. Dirigindo-se à Flandres ainda participou com sucesso noutros confrontos.
Não há unanimidade entre os historiadores quanto ao local de nascimento do Magriço. Resta dizer, que os seus pais, numa altura conturbada em que era necessário defender as fronteiras portuguesas, apesar de senhores do Couto de Leomil, moraram quer no castelo de Trancoso, onde seu pai era alcaide-mor, quer no castelo de Penedono e ainda no de Lamego.

Autor: Jaime Ricardo Gouveia

5 comentários:

Anónimo disse...

Mais um colaborador deste blog.

Parabéns a todos...Grande trabalho.

Força Jaime Ricardo Gouveia

João PM Dias disse...

Bem-vindo Jaime!

abraço,
joaomd

Anónimo disse...

Agradeço o convite dos mentores do blogue para dar o meu contributo e louvo a iniciativa que deu já frutos. Ganha Moimenta da Beira com gente interessada e apostada em divulgar a sua terra.
Abraço a todos.

Anónimo disse...

Da nossa terra não percebo porquê!!!!

Anónimo disse...

Para o último anónimo: está a sugerir que fosse alargado o âmbito analítico da crónica, está a cepticizar o conceito de "terra", ou não conseguiu encontrar interconexões entre a crónica e o âmbito espacial dos vários concelhos do passado que hoje integram o de Moimenta da Beira??? Não percebi, confesso.