segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Praça Pública - Semanal

OBAMA, the 'DAY AFTER' - «Boaventura Sousa Santos»

No plano internacional, não é seguro que Obama realize a grande viragem no sentido do respeito pelos povos com interesses divergentes dos das multinacionais dos EUA, nem que dê prioridade às boas relações com a Rússia .

A magia e o simbolismo da eleição do Presidente Obama varreram o mundo como um cometa. O clarão da esperança, da vitória contra o racismo, da oportunidade da paz foi tão intenso que, por momentos, o mundo pareceu reconciliado consigo mesmo. Foram momentos breves, mas deram para imaginar a utopia de uma sociedade mais democrática, sem preconceitos raciais, centrada na busca da paz e da justiça social. Como todas as luzes muito fortes, o clarão cegou-nos para a realidade que estava sentada ao lado da imaginação em pose tão sedutora. No preciso momento em que o mundo assistia comovido ao discurso de aceitação de Obama, na noite de 4 de Novembro, uma festa de casamento, no Norte do Afeganistão, era destruída pelos bombardeiros não tripulados dos EUA, deixando no solo de sangue e roupa de festa 40 cadáveres. Foi o sexto casamento destruído assim, desde a invasão do Iraque.
À medida que o clarão se esvai, o mundo respira e prepara-se para um período de alguma suspensão entre as frustrações que se seguem às grandes expectativas e a necessidade de não fazer juízos precipitados.
O mundo a que me refiro não é todo o mundo – não são, por exemplo, os racistas que estão à espera do primeiro sinal para gritar: «Os negros não sabem governar»; são os cidadãos dos EUA e de todo o mundo que, na noite da eleição, rejubilaram com a possibilidade de um mundo melhor. São a esmagadora maioria da espécie humana, mas o seu poder não é proporcional ao seu número.
Na área da segurança e da guerra, os motivos de optimismo são: encerramento da base de Guantánamo; abolição da tortura; revogação de cerca de 200 decretos presidenciais que fizeram dos EUA um Estado autoritário, no plano interno, e um Estado pária, no plano internacional; regresso da diplomacia e do multilaterismo. Os motivos de preocupação são, antes de tudo, a guerra. Cumprirá Obama a promessa de retirar as tropas do Iraque em 16 meses? A proposta de promover um acordo entre a Índia e o Paquistão sobre o território de Caxemira (sem consultar os seus habitantes, claro), a fim de o exército paquistanês ficar mais disponível para combater os talibans, além de irrealista, corre o risco de transformar o Afeganistão na guerra de Obama, tal como o Iraque foi a guerra de Bush. Se Usama bin Laden é, de facto, o inspirador do terrorismo, só os talibans o poderão entregar e, para isso, há que negociar com eles, o que não é possível se eles continuarem a ser o inimigo, apesar de controlarem o poder local de mais de metade do país e a sua maior base étnica (os pashtuns) estar repartida entre o Afeganistão e o Paquistão. Quem pode hoje imaginar que o Vietname tenha sido alguma vez uma ameaça comunista à segurança dos EUA? E, no entanto, em nome dela morreram 58 mil soldados norte-americanos e um milhão de vietnamitas. O que se dirá amanhã da «ameaça terrorista» do Iraque e do Afeganistão?
No plano internacional, não é seguro que Obama realize a grande viragem no sentido do respeito pelos povos com interesses divergentes dos das multinacionais dos EUA, nem que dê prioridade às boas relações com a Rússia, agora que se sabe que a Georgia foi activamente induzida pelos americanos a invadir a Ossetia do Sul para provocar a invasão russa, donde se esperavam dividendos para a campanha de McCain; agora que se sabe que a instalação de mísseis a 800 km da fronteira russa foi uma provocação premeditada dos neoconservadores.
No plano da economia, a dimensão da crise que se aproxima ainda está por averiguar e a capacidade de manobra de Obama é pequena. Tal como sucede em Portugal, vai recorrer ao investimento público para travar o desemprego. Mas aproveitará a oportunidade para construir um «capitalismo de rosto humano», tal como fez Roosevelt na crise de 1929 e Reagan e Clinton desfizeram? Em Washington D.C. trabalham cerca 40 mil lobbiyistas, procurando influenciar o voto de 537 representantes do povo para que tal não aconteça. (Fonte: Visão)

5 comentários:

Anónimo disse...

E o novo Jornal Beirão? Deparei-me com ele num café da vila e não pude dispensar uma leitura.
Acho que aborda temas interessantes. E o jornal Terras do Demo que me desculpe, o meu pai é assinante, quando o recebo, até fico com uma pequena ansiedade em o abrir, mas ao desfolhar e ler todas as páginas, isto em menos de 10 minutos, pouco ou nada de novo vislumbrei.
Então com o aparecimento deste blog, ajudou ainda mais a termos noticias recentes e actuais.
Achei interessante a criação de um novo jornal, eu sei que não tem nenhuma relação com o post, mas penso que deveriam referenciar a criação do novo jornal, digo eu...

Cumprimentos de um Moimentense desinteressado

Anónimo disse...

O Terras é afecto ao PSD local...tá tudo dito

RMLR disse...

Continua a estupidez a reinar por aqui.... Este ultimo comentário!!! é de lamentar.

João PM Dias disse...

Boa tarde,

"um novo jornal, eu sei que não tem nenhuma relação com o post, mas penso que deveriam referenciar a criação do novo jornal"

1º) Ainda não tive oportunidade de ter esse Jornal Beirão "nas mãos", logo, não posso fazer uma publicação sem avalição prévia ("da boca pra fora") e sem "contexto" especifico!

2º) Estamos a tratar do assunto e publicaremos um post assim que possivel. (Apesar de não termos obrigação de nada!)

3º) Este blog tem a politica de permitir que todos os Moimentenses possam ajudar, participar e enviar noticias que ainda não tenham sido publicadas ou debatidas.(Raramente ajudam - à excepçao 4/5 Pessoas)

4º) Confundir este blog com qualquer tipo de "cor partidária" é, pura e simplesmente, falta de conhecimento e de bom senso. (Discutir sobre politica é diferente discutir sobre partidos!)

5º) Não somos bloguistas profissionais e tudo o que aqui é proporcionado, é feito pela nossa terra e sem pedir nada em troca! (Paixão)

6º) Respeitem o espaço! (aos anónimos)

abraço,
joaomd

Anónimo disse...

Ainda bem que temos mais um jornal.
mas não se preocupem muito com isso, temos muito mais com que nos preocuparmos.
Porque não, preocuparmo-nos com a instalação do prometido SUB em Moimenta da Beira?
Porque não, sabermos e darmos opinião, se for caso disso, sobre a revisão (em curso) do PDM?
Porque não, opinarmos sobre a distribuição, indiscriminada, de "magalhães", sabendo como sabemos, que ha muitos idosos e doentes pobres, que não têem dinheiro para comprar medicamentos.
E que me dizem sobre o tão prometido e desejado IC 26?
Ha mais assuntos importantes para o nosso minicipio, mas poemos começar por estes.
As minhas saudações

PS: Faço minhas as palavras de RMLR.