segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Praça Pública - Semanal

Suspeita, conspiração e jornais «Henrique Monteiro»

Os jornais, ou para citar os antigos, "a rapaziada dos jornais", são, já se sabe, os grandes culpados do que por aí anda. Esta é uma ideia espalhada por quem não vê, ou não quer ver, a função essencial do jornalismo numa sociedade livre.

Sobre o caso Freeport, a comunicação social tem revelado alguns factos concretos, confirmados por intervenientes: buscas, relações familiares, mails comprometedores, controvérsias na aprovação dos terrenos. Também difundiu, é claro, informações parcelares sobre uma carta rogatória que, tal como uma pintura abstracta, pode ser interpretada ao gosto de cada um.

Mas o caso é interessante e parece constituído por peças de um puzzle que encaixam na perfeição. Houve, de facto, controvérsia nos terrenos, houve reuniões internacionais entre investigadores ingleses e portugueses, houve mails de um primo, buscas a um tio e há uma carta que, em todo o caso, não é a coisa mais simpática que poderia acontecer a Sócrates.

Esconder estas realidades seria negar que vivemos numa sociedade livre onde os temas podem ser discutidos sem serem imediatamente catalogados.

E, se é certo que todos são inocentes até sentença transitada em julgado, não é menos certo que - ao tratar-se de uma figura política tão elevada - nós não esperamos que reaja apenas passivamente, clamando contra "campanhas negras" ou como aqueles maridos apanhados que apenas respondem "querida, não é o que parece". De Sócrates e do seu dinamismo espera-se proactividade, tomada de liderança e vontade de tudo esclarecer. Desde o envolvimento familiar até às peripécias com o terreno.

Quero com isto dizer que penso ser útil o primeiro-ministro tomar a iniciativa de provar, sem margem para qualquer dúvida, a sua inocência e o seu afastamento de todo este processo. Abrindo as portas e divulgando o que lhe for possível divulgar: contas, negócios (se os tem), contratos. A bem de todos e, é claro, dele próprio. Os cargos políticos têm os seus inconvenientes, e este é um deles. Porque não basta dizer que se está à disposição da Justiça, é preciso que Sócrates esteja também à disposição dos cidadãos e da comunicação social.

O papel do jornalismo nestas questões é - em duas palavras - ser chato. Não largar o caso, querer tudo esclarecido. Não digo que não haja enviesamentos, manipulações e mentiras, que também as há. Mas limitar-se a culpar o mensageiro ou reduzir tudo a uma conspiração (que não se sabe também se existe), é não entender o direito que a imprensa e a opinião pública têm de controlar os actos do Governo. (Fonte:Expresso)

1 comentário:

José Carlos Gomes disse...

Obviamente que cheira a esturro e parece que o Primeiro Ministro anda metido no barulho.Haja coragem para julgar os crimes de colarinho branco!