quarta-feira, 12 de maio de 2010

«MoimentaNaNet» - Grande Entrevista [3]

GRANDE ENTREVISTA com,
José Requeijo - “Comandante dos Bombeiros Voluntários!”

Exclusivo MoimentaNaNet

José Alberto Requeijo desde muito novo seguiu os “passos” do seu Pai (Comandante Requeijo) e entrou para os bombeiros na “escola de recruta” de 1987. Comandante desde 13 de Outubro 2004, José Requeijo e toda a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Moimenta da Beira têm apostado na formação, aquisição de material e equipamentos. Prova disso são os resultados apresentados nos últimos anos onde se destaca a redução significativa de área ardida no concelho e, na área da saúde, uma resposta pronta e eficaz a todos os pedidos de socorro.
Com a abertura de uma nova “escola de estagiários” e novidade de, pela primeira vez, serem aceites inscrições de mulheres para o corpo activo, vamos saber que esforços humanos e financeiros foram ou serão necessários para este novo passo dos Bombeiros Voluntários de Moimenta da Beira.

MoimentaNaNet: Comandante José Requeijo, antes de mais, Muito Obrigado por aceitar ser nosso entrevistado!
Que balanço faz destes 23 anos ao serviço dos B.V. de Moimenta da Beira, seis dos quais como Comandante?
Comandante José Requeijo:
Em primeiro lugar um agradecimento muito especial ao Moimentananet pelo convite que me foi endereçado e pelo excepcional trabalho que têm desenvolvido em prol do Concelho. O meu balanço nestes 23 anos, só pode ser positivo, falando na minha experiência pessoal, pois é muito gratificante poder ter dado algo de mim de forma voluntária e gratuita ao serviço das populações do concelho, da região e do país. No entanto esse balanço deve ser feito principalmente pelas pessoas que servi e ajudei em tantas e diversas situações. Mas posso dizer que me sinto feliz e com um enorme orgulho do meu percurso nos Bombeiros de Moimenta da Beira.

MNN: Quais as principais diferenças na corporação entre o ano de 1987 e 2010?
CJR:
Bom, estamos a falar de um período de 23 anos, em que a própria sociedade Portuguesa mudou os seus hábitos, os seus comportamentos, e a suas exigências. A reboque de toda esta descoberta de evolução tecnológica do final do século XX e inicio do século XXI, os Bombeiros tiveram de se actualizar e adaptar a esta nova realidade. Principalmente, foi feita uma grande aposta na formação do pessoal e um enorme esforço financeiro para investir em viaturas e equipamentos. Hoje temos intervenções que nos exige uma formação muito específica, muito técnica e de qualidade, com meios humanos e materiais muito bem preparados e treinados, porque somos avaliados pela sociedade pelo que fazemos e como fazemos, normalmente, de menos bem, porque fazer bem é a nossa obrigação.

MNN: Nos últimos anos tem sido desejado um novo quartel uma vez que o actual já é “pequeno” para o corpo de bombeiros e para as viaturas. Acha que esse desejo está para breve? Quais têm sido os principais entraves?
CJR:
É verdade, realmente a Direcção e Comando, têm vindo a movimentar-se no sentido de ver concretizado esse sonho da construção do novo quartel, por vários motivos. Um dos quais, a falta de condições operacionais no aspecto de acondicionamento de viaturas e de pessoal, mas também o problema das novas necessidades no que diz respeito a ter um bom espaço com equipamentos para a formação e instrução continua. Estamos a fazer uma avaliação e um trabalho conjunto entre a Associação e o Município, parceiro importantíssimo neste processo, mas as dificuldades são bastantes e morosas, principalmente pelo facto de a candidatura ao seu financiamento, através do QREN, só ser possível para quartéis que tenham sido construídos há 40 anos, o que não é o nosso caso -construído em 1982 (28 anos). Contudo temos outras possibilidades e meios que estamos a considerar, existe vontade dos Bombeiros, existe vontade da Autarquia, por isso iremos com certeza encontrar uma solução para o novo quartel, ainda que possa haver um período longo até à sua concretização.

MNN: Todas as corporações do país falam das elevadas exigências que recentes medidas legislativas impõem, em termos de disponibilidade e de formação, aos voluntários que servem os corpos de bombeiros. Que exigências são essas? Acha que estamos a caminhar para o profissionalismo dos Bombeiros apontando para o fim do Voluntariado?
CJR:
Não acredito que o voluntariado caminhe para o seu fim, exemplo disso é a adesão massiva dos jovens para os Bombeiros. O que digo é que estamos a atravessar uma fase em que existem muitos voluntários com vontade e dedicação à causa, têm é falta de disponibilidade e tempo, pelo facto das suas entidades patronais terem alguma dificuldade na sua cedência. O ritmo, o tipo de ocorrências e o número de solicitações exige hoje que os Bombeiros tenham uma resposta capaz e pronta ao primeiro minuto, a sociedade moderna caminhou nesse sentido e assim o exige. A reforma legislativa que vem sendo implementada no sector dos Bombeiros, desde há uns 2 ou 3 anos, implica que os corpos de Bombeiros tenham uma estrutura com base profissional, para uma intervenção ao primeiro minuto, mas o grande pilar de sustentação, de intervenção forte e musculada é sem dúvida o voluntário. Todos estes novos conceitos, fazem com que a qualidade e a capacidade de formação atinjam um alto nível nos Bombeiros e obrigue em consequência a uma maior responsabilidade na resposta. Só a título de exemplo, uma recente lei obriga a que todos os bombeiros que conduzam veículos, com a categoria B (ligeiros), têm de se submeter a um exame médico e outro psicotécnico, a fim de efectuarem o averbamento de “Grupo 2” na sua carta, mas isto implica um custo de cerca de 100 €. Estou de acordo que se regulamente e preste provas para estar habilitado a conduzir veículos de bombeiros, mas não concordo que quem pague esta despesa seja o bombeiro que serve e socorre voluntariamente a população. É este tipo de legislação feita ao desbarato e grosseiramente que poderá por em causa o voluntariado.

MNN: Recentemente foi aberta (e com grande adesão) uma “escola” para estagiários onde se insere a novidade de, pela primeira vez, serem aceites inscrições Femininas. Mulher no corpo activo já é, há vários anos, usual em muitas corporações do País, porquê só agora em Moimenta?
CJR:
Uma correcção. Apenas para vos dizer que nos Bombeiros de Moimenta da Beira existe corpo feminino há mais de 20 anos, com elementos que, apesar de não aparecerem com frequência na frente das ocorrências, são o pilar forte da área logística na retaguarda e que tanto apoio nos dão sempre que são chamadas a realizar tarefas como confeccionar refeições para o pessoal, já reconhecidas e elogiadas por outros corpos de Bombeiros e também na prestação de serviço no quartel aos fins-de-semana. No entanto, nesta nova escola de estagiários que recentemente começou a receber formação inicial, cerca de 40 novos elementos, 18 são do sexo feminino que irão fazer toda a formação exigida para o ingresso na carreira de bombeiro, já que a formação, composta por 350 horas, inclui, desde incêndios urbanos e industriais, incêndios florestais, técnicas de socorrismo, técnicas de salvamento e desencarceramento, etc.
Realmente tem havido alguma dificuldade em recrutar novos elementos femininos, pelo simples facto de as instalações do quartel não terem um espaço apropriado para as receber condignamente, no entanto estamos neste momento a efectuar uma obra de adaptação, mais uma, em colaboração com a Câmara Municipal, que nos vai ceder todo o material necessário à sua realização e o pessoal do corpo activo dos bombeiros que irá executar voluntariamente a obra, para que as meninas possam prestar o serviço operacional de igual modo e condições idênticas às que prestam os homens.

MNN: É óbvio que a entrada de mulheres leva a mudanças na “estrutura” do corpo activo. Dada a já comentada falta de espaço no quartel, que esforços humanos e financeiros foram ou serão necessários para esta nova fase?
CJR:
É claro que, sendo um novo desafio para os Bombeiros, teremos de fazer alguns ajustes para que se criem todas as condições necessárias ao bom desempenho das suas funções, porque, pelo que me tenho apercebido, elas querem disputar de igual para igual os lugares e as tarefas com os homens. Em termos humanos o esforço inicial é feito por elas, que têm de ter o equipamento individual em casa e virem já fardadas para o quartel, o que convenhamos não é o mais correcto. No que diz respeito ao esforço financeiro, Associação tudo irá fazer para dar as melhores condições de poderem estar sempre em prontidão nas chamadas para as ocorrências, desde as condições de fardamento, de formação e instrução, como também as condições das instalações, como já referi - Autarquia está a dar todo o apoio para que essas condições sejam uma realidade.

MNN: Para evoluir e ter resultados positivos é sempre preciso investir em varias áreas e os Bombeiros não são excepção. Que investimentos foram feitos nos últimos anos e quais planeia fazer a curto prazo?
CJR:
O maior investimento que os Bombeiros têm de fazer continuamente é nos recursos humanos, pois sem eles toda a acção na prestação de socorro fica vazia de conteúdo, mas para isso é necessário dar condições a esses homens e mulheres que servem voluntariamente a causa “bombeiros”. É muito importante que se proporcione formação técnica de qualidade, instrução contínua de aperfeiçoamento prático, equipamentos de protecção individual adequados a cada função e também investir em material e viaturas que será a grande fatia financeira da Associação. Todos estes investimentos, que são muitos devido aos diferentes tipos de ocorrências nas diversas áreas de actuação, fazem com que o orçamento anual da Associação seja hoje de cerca de 600.000€ (seiscentos mil euros), o que diz bem da responsabilidade e do sentido de investimento que, tanto a Direcção, como o Comando, pretendem para a Corporação.

MNN: Recentemente, na área da Saúde, houve modificações com a entrada em funcionamento da SUB (Serviço de Urgência Básico). Que alterações traz a SUB à actuação dos Bombeiros?
CJR:
A entrada em funcionamento do SUB veio dar ao Bombeiros uma mais-valia num apoio mais próximo e diferenciado nas ocorrências de emergência pré-hospitalar. Os Bombeiros têm ao longo da sua vida tido a capacidade de se adaptarem aos serviço e exigências impostas no Concelho – como, por exemplo, quando o Centro de Saúde passou a ter o SAP (Serviço Atendimento Permanente) com horários a serem diversas vezes alterados até ao seu fecho, em que tivemos um período de alguma instabilidade não se sabendo muito bem a orientação correcta para os doentes urgentes. Com a abertura do SUB também nos fomos e ainda estamos a adaptar ao novo modelo de funcionamento, com a novidade de permanência de 24 horas, com o grande aumento de serviços prestados ao SUB na área das transferências intra-hospitalares, com o aumento de afluência de doentes dos concelhos limítrofes e que começaram a drenar para Moimenta da Beira. Essa nova realidade fez com que os Bombeiros, mais uma vez atentos, com o desenvolver das solicitações, fizeram investimentos no quadro de pessoal profissional e na aquisição de uma nova ambulância, tudo isto com o intuito de mantermos ou até melhorar o socorro às pessoas.

MNN: Os B.V. de Moimenta da Beira têm uma Ambulância do INEM (Posto de Emergência Médica), têm o apoio da VMER de Viseu (veículo de Emergência Médica), da SIV de Lamego (Suporte Imediato de Vida) e brevemente vai estar disponível um Helicóptero INEM em Aguiar da Beira. Sente-se bem apoiado nesta área ou acha que ainda há falta de “ajuda” no interior do país?
CJR:
Os Bombeiros de Moimenta da Beira, têm PEM (Posto Emergência Médica) desde há muito tempo, ainda no extinto SNA (Serviço Nacional de Ambulâncias) que depois se reorganizou como existe hoje, o INEM (Instituto Nacional Emergência Médica). Neste percurso de anos, os bombeiros foram-se adaptando às necessidades e às novas exigências da sociedade, e fez com que tenham hoje uma ambulância SBV (Suporte Básico de Vida) com o mais moderno equipamento de socorro e uma tripulação com formação adequada e habilitada a ocorrer às mais diversas situações de emergência. Evolução dos tempos modernos fez com que as pessoas do interior reivindicassem os mesmo nível de socorro de quem vive no litoral e nas grandes cidades, nesse sentido o INEM tem vindo gradualmente a colocar meios de socorro mais diferenciados, começou por ter um VMER (Veiculo Médico de Emergência e Reanimação) tripulado por um médico e um enfermeiro estacionado no hospital de Viseu, hoje temos também o apoio do VMER do Hospital de Vila Real sempre que Viseu está ocupado ou a ocorrência é a norte de Moimenta da Beira. Mais recentemente foi colocada no Hospital de Lamego uma ambulância SIV (Suporte Imediato de Vida) tripulada por um enfermeiro e um TAE (Técnico de Ambulância de Emergência) e, finalmente, para completar estes meios terrestres de emergência, foi colocado um helicóptero em Aguiar da Beira e Macedo de Cavaleiros - já operou aqui em Moimenta da Beira num acidente de tractor. Por tudo isto penso que estamos muito melhor protegidos e com meios suficientes para fazer face a qualquer tipo de emergência, além de que a abertura do SUB de Moimenta da Beira é sem duvida uma mais-valia para este sistema de emergência pré-hospitalar, sendo de realçar a excelente colaboração que existe entre os Bombeiros e todos os profissionais do SUB.

MNN: Aproxima-se a fase crítica dos incêndios florestais. Quais as expectativas para este ano dada a grande área florestal do nosso concelho?
CJR:
Tenho esperança que se consiga manter os resultados ou mesmo melhorar, pelo facto dos meios humanos e materiais se manterem idênticos aos outros anos. No entanto, resultado de um inverno longo e muito chuvoso fez com que os combustíveis finos e os matos se tenham desenvolvido em quantidade e com a chegada de um verão mais quente teremos uma carga térmica acumulada com um índice muito elevado para a propagação dos incêndios. Temos de contar com o esforço de todos os agentes intervenientes neste Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Florestais / 2010 (DEFCI 2010), tendo uma postura de grande capacidade na resposta, de prontidão e esforço de todos, incluindo por parte de toda a população do concelho. Refiro o grande slogan dos últimos anos “Portugal sem Fogos depende de TODOS”.

MNN: Dados mais recentes indicam uma significativa redução da área ardida no nosso concelho ao longo dos últimos anos. Quais os principais factores desse grande êxito dos Bombeiros Voluntários de Moimenta da Beira?
CJR:
A redução significativa da área ardida no concelho, deve-se ao facto de existir uma coordenação e cooperação muito próxima de todos os intervenientes neste processo. Se por um lado os bombeiros têm tido uma acção de 1ª intervenção rápida e musculada, temos também os outros agentes envolvidos com um sentido de missão e cumprimento objectivo, tal como o faz a GNR na vigilância, prevenção e fiscalização, os GIPS mais na intervenção, os Sapadores Florestais de Leomil na vigilância da parte norte do concelho e intervenção primária, a Fiscalização Municipal em colaboração plena com os Bombeiros em tudo o que lhes é solicitado, o Gabinete Técnico Florestal e a Protecção Civil Municipal sendo disponibilizados os seus meios humanos e materiais sempre que solicitado, também a consciencialização e ajuda das populações tem sido um forte contributo. Só com este envolvimento de todos os agentes de protecção da floresta, é possível a redução da área ardida nos últimos anos, mas também o efeito dissuasor e sensibilização feito junto das populações ajuda a que hoje tenhamos mais cuidado na gestão de resíduos e limpeza da floresta.

MNN: Que conselho dá aos Moimentenses para diminuírem ainda mais os incêndios e preservarem as nossas florestas?
CJR:
Temos assistido nos últimos anos a uma maior consciencialização por parte das populações relativamente aos incêndios florestais, vemos hoje algum cuidado no uso do fogo na agricultura e queima de sobrantes da floresta, na limpeza da floresta e manutenção de acessos. Também penso que as campanhas feitas através dos média, rádios jornais e televisão, bem como dos serviços municipais de protecção civil e gabinete técnico florestal no acompanhamento no terreno das acções a levar a efeito pelas pessoas. Com este tipo de acção conseguimos reduzir significativamente o número de incêndios provocados por descuido e negligência, no entanto temos a faixa de incêndios de origem criminosa que ainda não foi nem será possível eliminar na sua totalidade.
Como conselho aos Moimentenses, digo-lhes que para obtermos o maior sucesso na protecção da nossa floresta é importante todos os cuidados anteriormente mencionados, mas também estarmos alerta e fazer uma detecção muito rápida e precoce dos incêndio. Para isso é sempre possível de qualquer telefone ligar o número 117 ou para os bombeiros 254 582 153.

MNN: Quais os pontos fortes e os pontos fracos da sua corporação?
CJR:
Esta é a pergunta mais difícil de vos responder, pois é uma questão que só a população que servimos, pode dizer. No entanto, tenho a certeza que os meus homens e mulheres tudo fazem para a satisfação de quem servem, no entanto não tenho problema nenhum em assumir que poderá haver algo menos bem nos bombeiros, mas que estamos abertos a sugestões e a aceitar qualquer crítica ou opinião menos boa, desde que seja com o intuito de ajudar a melhorar a prestação de serviço. Sabem que normalmente quem está dentro das instituições tem uma opinião e uma visão das coisas diferente de quem está no exterior. Esta questão poderia até ser um tema de discussão no blogue, com assuntos que achem que devem ser discutidos, em que eu, como Comandante, ou a Direcção estaremos disponíveis para responder.

MNN: Muito Obrigado pela disponibilidade e votos de um bom trabalho em prol do concelho!
CJR:
Eu é que agradeço a possibilidade que me foi dada pelo MOIMENTANANET, para responder e talvez esclarecer algumas das dúvidas ou questões à população do Concelho de Moimenta da Beira. Dar os parabéns e dizer que podem sempre contar comigo pessoalmente e com a Instituição Bombeiros em prol do desenvolvimento da Nossa Terra.
Em nota final só dizer que tenho o maior orgulho da minha corporação de bombeiros, desde os órgãos sociais, dos elementos de comando que comigo gerem operacionalmente o corpo activo, a todos os elementos do corpo de bombeiros, pela sua dedicação e disponibilidade, todos emanados da missão de defesa do lema “Vida Por Vida”. A todos o meu muito obrigado.

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