terça-feira, 10 de abril de 2012

«Arqueologia» - A arte da azulejaria

Pormenor do revestimento azulejar
do convento beneditino de Nossa Senhora da Purificação,
Localização: Terreiro das Freiras, freguesia de Moimenta da Beira.

O convento de Nossa Senhora da Purificação integra um dos conjuntos azulejares mais significativos do distrito. Aqui, em articulação com as estruturas retabulares de talha dos altares, as paredes[1] encontram-se revestidas por azulejos[2] dominantemente azuis, amarelos e brancos, repetindo-se uma série de motivos geométricos e florais, formando grandes tapetes demarcados por cercaduras igualmente de padronagem. Destaque para a zona central da parede do fundo, onde presenciamos a inclusão de um pequeno painel figurativo.
Este tipo de decoração é conhecido por azulejo de tapete, que resulta da repetição de padrões diversificados e da geometrização das formas vegetalistas, espelhando muito o decorativismo árabe. Foi amplamente utilizado a partir dos finais do século XVI, inclusive após o terramoto de 1755, devido à necessidade da reconstrução da cidade de Lisboa, daí ser conhecido como azulejo pombalino, como referência ao Marquês de Pombal, responsável pela reconstituição da actual capital portuguesa.
Como material economicamente acessível (de baixo custo) e significativamente durável, importa dizer muito resumidamente que o azulejo[3] constitui um dos géneros artísticos mais originais da cultura portuguesa (atingindo a sua máxima expressão no período barroco), pela longevidade do seu uso (desde o século XVI, conjugando técnicas hispano-mouriscas, italianas e flamengas), pela quantidade de produção atingida e também pela aplicação/abrangência de uma vasta gama de técnicas[4] e programas[5] decorativos, capazes de qualificar esteticamente, em congregação com outros recursos – talha, escultura e pintura – edifícios[6]/espaços religiosos (mosteiros, igrejas, capelas), civis (casas solarengas, palácios[7]) e públicos (câmaras municipais, estações de caminho de ferro, jardins). 

Publicado no Jornal Beirão (81.ª edição)


[1] Os azulejos revestem a totalidade das paredes da capela-mor, das paredes do arco-cruzeiro e de fundo, enquanto nas laterais possui um lambril apenas até meio da parede.
[2] Peças de cerâmica de pouca espessura, de forma quadrada (14 cm x 14 cm), em que uma das faces foi decorada e vidrada, tornando-a impermeável e brilhante.
[3] A palavra azulejo tem origem no árabe azzelij que significa pequena pedra polida, ainda que seja comum relacionar-se com a palavra azul, dado grande parte da produção portuguesa se caracterizar pelo emprego maioritário desta cor.
[4] Mudéjar (ou hispano-mourisco), corda-seca, de aresta, alicatado, majólica, semi-industrial, etc.
[5] De grande riqueza cromática, os temas variam entre cenas alegóricas, idílicas, religiosas, mitológicas, relatos de episódios históricos, de caçadas e do quotidiano cortesão.
[6] Em alguns edifícios, chega a revestir todo o espaço interior, nomeadamente os tectos, as abóbadas, as paredes e os pavimentos.
            [7] O Palácio Nacional de Sintra, que serviu de residência à família real portuguesa, representa uma das primeiras utilizações conhecidas do azulejo em Portugal, importado das oficinas de Sevilha.


Autor: José Carlos Santos

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