segunda-feira, 10 de março de 2014

«Rotas e Lugares» - Percurso Megalítico da Nave



É na Quinta dos Caetanos (Alvite, Moimenta da Beira) que inicia o Percurso Megalítico da Nave, um dos trilhos traçados pela Turi rotas na Rota da Serra.

Aqui recuamos até aos primórdios da presença humana na região, onde comunidades essencialmente de pastores, há cerca de 6 000 anos, quiseram enterrar os seus mortos, edificando menires e imponentes túmulos conhecidos como antas, dólmenes ou popularmente como orcas, assinalando um das maiores necrópoles megalíticas do país.

Estas comunidades construtoras de sepulcros complementavam a sua subsistência com a caça, a pesca, a recoleção dos recursos vegetais fornecidos pela natureza e a prática de uma agricultura ainda muito rudimentar. Ainda não dominavam a técnica dos metais, produzindo os seus utensílios em pedra, osso ou madeira. A preocupação com a vida para além da morte levou-os a construir enormes túmulos reservados apenas a alguns. À maioria da comunidade reservavam-se os abrigos rochosos ou simples fossas abertas no solo.

Logo no início, junto à capela, será surpreendido por uma magnífica estátua-menir, com uma configuração antropomórfica. Este tipo de esculturas é geralmente interpretado como personagens pertencentes às elites, vinculados a rituais com implicações sociais, inserindo-se cronologicamente na transição do III.º para o II.º milénio antes de Cristo, num período denominado como Idade do Bronze Inicial/Médio.

Chegando à área de lameiro, encontrará as primeiras estruturas funerárias - a Orca da Fonte do Rato e a Orca do Bebedouro. As mamoas são visíveis ao longe, na vegetação baixa, mas as dimensões dos túmulos são as mais modestas de todo o percurso.  No lado oposto do vale, no relevo montanhoso conhecerá as maiores.

Nesta área de extensas chãs e terrenos alagadiços (onde nasce o ribeiro da Nave, afluente do Varosa), pode observar uma outra estátua, em granito, da Idade do Bronze, ainda implantada no sítio original. Trata-se de uma escultura antropomórfica ou antropomorfizada, em posição ereta no solo como um menir, sugerindo uma clara intenção de visibilidade e de íntima relação com a necrópole megalítica que a envolve.

Daqui seguirá até à Orca Grande que, pela sua dimensão e quase imperturbabilidade, é um dos pontos de destaque do trilho e um bom exemplo de um monumento megalítico, transmitindo-lhe a imagem de uma sepultura pré-histórica implantada numa colina artificial de terra e pedras (mamoa). É verdadeiramente colossal. Só a laje de cobertura mede cerca de 3,70 m de comprimento e 4,60 m de largura.

Estes monumentos aos mortos transmitem, como primeira mensagem, a ideia de capacidade e de durabilidade, pelas dimensões que atingem. A capacidade de extrair enormes pedras, transportá-las para locais muito afastados e inscrevê-las na paisagem, como marcas que simbolizam a crença na vida do Além.

Se for num belo dia de sol, nas suas imediações, achará, com facilidade, uma série de gravuras numa superfície rochosa. Podendo deter aqui um significado complementar, os motivos representarão uma forma de comunicação codificada, intrinsecamente ligada a aspetos da realidade quotidiana dos construtores destes megálitos, com propósitos territoriais e/ou religiosos/funerários, "comungando", talvez, segundo um ato cerimonial, do mesmo mundo de simbolismo perpetuado nas estátuas-menires.

Em seguida, visitará a Orca das Carquejas, um túmulo provido de corredor. Estrategicamente posicionada no cimo de uma cumeada, domina visualmente toda a área do planalto onde se encontram os restantes monumentos da necrópole.

Mais abaixo, a escassas centenas de metros, já muito próxima da base do vale, ergue-se o último túmulo do percurso - a Orca de Seixas, um monumento tipologicamente semelhante ao anterior, embora de maiores dimensões. Devido ao adiantado estado de degradação, foi alvo de trabalhos de escavação, restauro e consolidação. A entrada do corredor é obliterada por uma laje pouco espessa que funciona como porta. Geralmente seguida por rituais, através de fogueiras no local de acesso ao interior do sepulcro, podemos imaginar aqui a deposição do(s) defunto(s) como que um regresso do ser humano ao ventre materno - Terra Mãe.

Fácil e muito agradável, este é um percurso que permitirá compreender o fenómeno do megalitismo e as práticas funerárias durante a Pré-História.

Autor: José Carlos Santos
turirotas@gmail.com
http://turirotas.blogspot.pt/

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